
Pitaco
Eu estava observando hoje os preços e condições que o clube divulgou para quem quer se associar ao novo setor do Couto Pereira. Mesmo os valores em outros setores do estádio, sem contar obviamente com aqueles planos que não dão acesso em dias de jogos (subsidia em 50% do valor do ingresso), me parece cada vez mais um caminho sem volta para aqueles que não tem condições de pagar os planos. Só para ilustrar, no local mais barato do estádio hoje, a arquibancada, o sócio paga R$ 65 por mês, onde até outro dia já não tínhamos mais vagas para se associar (no site diz que tem), o que não deixa de ser bom para o clube. Mas será que essa opção é boa para o FUTEBOL em geral? Será que não teremos uma mudança de filosofia, transformando o esporte exclusivo apenas para quem pode pagar, deixando o torcedor comum e com menos poder aquisitivo de lado?
Em um determinado momento, elitizar foi o caminho encontrado pelos clubes para sanar alguns problemas, entre eles a violência, mas esquecem que o futebol é um esporte do povo, que atinge todas as camadas sociais. Com o tempo, sob certos aspectos, virou um negócio mais lucrativo, já que movimenta bilhões no mundo todo. Claro, existe o contraponto, a discordância em relação a essa escolha. Não se pode esquecer que por movimentar bilhões, é preciso fazer escolhas de nível superior, até porque, para se formar bons times, com nível competitivo a altura, é preciso ter recursos. Hoje vemos estádios sendo construídos também a custo bilionário, cheios de conforto e praticidade, mas que em algum momento serão proibitivos para as classes menos favorecidas, já que é o preço do ingresso que vai definir que tipo de público se quer num estádio.
Exatamente por isso é que o país do futebol hoje faz o evento Copa do Mundo para muito poucos, e não para aqueles que realmente movimentam essa conta gigantesca. Esses, depois de muito tempo sustentando o futebol, serão excluídos para dar lugar à uma platéia de teatro, cuja maior diversão será a de ir ao estádio, assistir aos jogos sentados e, caso seja necessário, reclamar que tudo está ruim, porque pagam fortunas e se sentem no direito de reclamar mais. Esse processo traz de volta aos estádios as famílias, mulheres, crianças, idosos, enfim, todos aqueles que se sentiam excluídos por não terem um serviço adequado para utilizar.O contexto disso visa, obviamente, o aumento de receitas no que diz respeito ao consumo. E o que está sendo debatido aqui não pode de maneira nenhuma ser colocado como se fôssemos contra a evolução e a modernização do patrimônio do clube, que é extremamente importante para o nosso futuro.
Tudo isso para se chegar ao novo setor do Couto Pereira, que terá preço mensal de R$ 250 por mês, além do pagamento de taxa de reserva de R$ 750 no mês de julho. Aumenta-se o valor da mensalidade na Mauá em quase 180%, empurrando os seus associados para a curva dos fundos (aqueles que não desejarem aderir ao novo plano). Não estou reclamando disso, acho que é para o bem do clube, nosso patrimônio tem que ser valorizado, até porque o momento é propício para esse tipo de investimento, em razão da Copa do Mundo. Particularmente me preocupa, de maneira geral, que o futebol tenha se transformado num negócio, onde o mais interessante é ganhar dinheiro, inclusive acima da paixão do torcedor, mesmo que isso custe o sacrifício dos apaixonados pelo esporte. Nós torcedores movimentamos absurdamente tudo isso, e merecemos tudo o que for de melhor do clube. E rogamos para que o dinheiro que cai lá seja bem gerenciado.
A intenção é provocar o debate e a troca de opiniões. O que é melhor? Ter uma receita média assegurada todo mês, mesmo correndo o risco de que a média de público seja baixa (o que vem sistematicamente acontecendo nos dias atuais) ou ter o estádio cheio todo jogo, com ingressos avulsos a venda nas bilheterias com preços acessíveis a todos, mesmo correndo o risco de a fase não ser boa e nem sempre termos o público desejado?
Em tempo: Na visão de administrador, prefiro a primeira hipótese. Na visão de torcedor, sou mais a segunda. E sou totalmente favorável à revitalização do estádio e da construção do terceiro anel. É o tipo de coisa que dá um plus de qualidade ao clube e ao torcedor.
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