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Fabiano Utrabo Merlin05/02/13, 22h11
Pitaco

Futebol de ontem, futebol de hoje

Se hoje o Coritiba tem perto de 30 mil sócios adimplentes, isso se deve principalmente à mudança de atitude e filosofia do torcedor em geral. Sim, porque em épocas não muito distantes, a tentativa de implantação de um programa de sócios torcedores deu com os burros n'água. Lembro principalmente do programa Sócio Torcedor, comandado pelo grande Florival de Matos Mariano, o Marianinho, que deu o impulso inicial ao que hoje temos em termos de relacionamento com o torcedor/sócio. Mas os números não eram nem próximos ao que temos hoje.

Se hoje o ingresso mais barato é o de arquibancada a R$ 95,00 (inteira), é só fazer uma conta de quanto o torcedor gastaria se fosse a todos os jogos do mês em casa. Em média, pelo Estadual, teremos no mínimo dois jogos em casa. Só ai, custaria R$ 190,00 de ingresso. Para se tornar sócio, o torcedor paga, na arquibancada, R$ 65,00, tem direito a voto, e pode ir a todos os jogos do clube em casa. Óbvio que o valor do ingresso está relacionado com o valor da mensalidade, forçando o torcedor a enxergar a vantagem de pagar mensalmente menos que o valor de um ingresso. E essa forma de administração garante receita para o clube mesmo em épocas ruins e que não incentivam o torcedor a se associar. E concluímos também que o torcedor eventual, aquele que não se associa, vai ao estádio uma ou duas vezes ao ano, não interessa ao clube.

Mas porque o ingresso é tão caro se comparado aos valores praticados a dez anos atrás? Porque não se tem uma política de venda de ingressos mais acessíveis àqueles que não podem pagar o plano de sócio? Por que o panorama e os custos para se fazer futebol ficaram astronômicos. E aqueles que comandam os clubes tiveram que optar: planos de sócios para garantir receita ou apostar na quantidade de torcida no campo, mas dependendo dos resultados dentro dele para manter a empolgação e a presença, gerando mais lucro? Os cartolas preferiram apostar no seguro ao invés de arriscar.

O que deixa muita gente realmente preocupada, mesmo sabendo que a receita está garantida, é o fato de que o torcedor que paga, afinal, como eu mencionei lá em cima, temos 27 mil adimplentes, muitas vezes não vai ao estádio. Nas últimas sete partidas em casa, tivemos um total de 78.396 torcedores presentes, sendo que a média de público nessas partidas foi de aproximadamente 11.200 torcedores presentes ao estádio. Ou seja: o sujeito paga por mês mas não vai ao estádio. A preocupação é que, além do sócio se manter adimplente para ajudar o clube financeiramente, ele precisa também ir ao estádio para ajudar o time em campo, o que estranhamente não vem acontecendo.

Concluindo: o futebol é um grande negócio, que movimento bilhões de reais no Brasil, mexe com a vaidade de muita gente, e possivelmente crescerá muito mais em termos de custo nos próximos anos. Quando nós, torcedores coritibanos, caçoávamos dos torcedores do C.A.Paranaense acerca de seu estádio, que mais parecia um shopping, e dos valores dos planos de sócios e dos ingressos, nunca imaginaríamos que estaríamos indo para o mesmo caminho. É o caminho que todos vão seguir, é o preço que a Copa do Mundo vai cobrar da gente, torcedor comum, que ama o seu clube sem pensar no dinheiro e sim na paixão. Mas não se trata de querer prejudicar a torcida, trata sim de escolher o caminho para que a administração do clube tenha liquidez e gere novas receitas para investimento imediato, que interessa a todos os envolvidos. E coloca o esporte num caminho perigoso, o da elitização. Quem é a parte mais prejudicada nessa equação? Nós ou os clubes? É pra pensar...

Tudo o que eu poderia falar sobre a lamentável contusão do Bottinelli eu já falei nos comentários das colunas e notícias que abordaram o tema. Vi gente julgando Lincoln, chamando-o de mau caráter, dando a entender que ele fez de propósito para ficar com a vaga de titular, gente criticando o DM do clube, como se fosse possível culpar o departamento por conta das contusões que acontecem. Seja uma fatalidade ou não, ninguém pode se arvorar do direito de julgar ninguém... Pode correr o risco de ser julgado num futuro próximo. Que Deus abençoe o Bottinelli e que ele tenha uma rápida recuperação.

Fabiano Utrabo Merlin

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