Por trás da Notícia
Após a repercussão dos três posts falando sobre as lesões e a preparação física no Coritiba, um publicado em 24 de fevereiro e dois nesta terça-feira, sendo o primeiro sobre declarações do preparador físico Alexandre Lopes e o segundo contendo uma opinião do leitor Douglas sobre o tema, o Professor Marcelo Algauer, ex-blogueiro COXAnauta, nos brinda com suas considerações e esclarecimentos, além de sua interpretação da atual condição da preparação física Coxa-Branca. Confira:
Tive a oportunidade de ler a matéria do amigo Leonardo Lovo, confesso que estou um pouco longe da fisiologia nos últimos meses, mas vale a pena escrever algumas considerações que acho importante.
A lesão muscular tem origem em diversos fatores, redução de força, fadiga, perda de amplitude de movimento, traumas, etc. O relevante, é que existem diversos meios de prevenir essas ocorrências, entretanto não é garantido que todas as medidas profiláticas evitem a lesão no tecido muscular, mas sem dúvida algumas ações reduzem significativamente a incidência.
Em se tratando da matéria publicada, no qual o titular da preparação física, Prof. Alexandre Lopes, destaca que a grande quantidade de jogos em seguida a pré-temporada é o possível causador do alto índice de lesões, podemos descrever algumas considerações.
No futebol moderno, o início da temporada é o marco para um novo ciclo de treinamento. Antes de estabelecer um cronograma das ações a serem desenvolvidas são necessárias duas informações, qual a condição física do atleta na data da apresentação e o calendário anual das competições.
Os atletas profissionais, passam cerca de 20 a 30 dias em férias, nesse período procuram (ou deveriam) praticar algum tipo de exercício físico moderado, com o intuito de manter um nível de condição física razoável. Como são indivíduos altamente treinados durante vários anos, sua capacidade de atingir bons níveis é mais rápida em relação a indivíduos “normais”, mesmo aqueles que participam de programas de exercícios físicos não-competitivos.
Na apresentação, os atletas são submetidos a uma bateria de avaliações com o objetivo de diagnosticar algumas variáveis de performance física. Esses dados servem de base para a planificação individualizada no início da temporada.
Com os dados vem a fase de planejamento, utilizando o período de treinamento pré-competitivo e calendários de jogos, é possível estabelecer um cronograma de atividades definindo uma a estratégia em relação ao volume, intensidade, freqüência e densidade de treinamento.
A idéia de estabelecer uma pré-temporada com um grande volume de treinamento, procurando estabelecer uma “base” para a temporada e atingir um bom nível de condição física em determinada etapa do ano, já caiu em desuso a muito anos. Como os atletas estão envolvidos em competições por tempo superior a 10 meses, onde todo jogo é decisivo e
importante, os níveis de condição física devem ser bons durante toda a temporada.
Com a metodologia atual, os níveis de stress fisiológico do atleta devem ser monitorados freqüentemente, assim como seu volume e intensidade de treinamento. Devem ser implantados métodos bioquímicos de controle, como análise de lactato sanguíneo, CK, entre outros indicativos que evitam a fadiga crônica.
Além do controle, técnicas avançadas de recuperação pós-jogos e treinamentos são fundamentais, aliados a uma estratégia nutricional adequada, já que o período de recuperação entre jogos e treinamentos é muito pequeno, além das desgastantes viagens.
Tenho absoluta certeza que o Coritiba possui um grupo de profissionais na área da fisiologia que está entre os melhores do Brasil, entretanto apenas uma estratégia me chamou a atenção durante a primeira fase de treinamento, o local, a cidade de Foz do Iguaçu no mês de janeiro.
Tive a oportunidade de participar durante algumas oportunidades, como fisiologista, em fases de treinamentos nessa região. O clima durante o mês de janeiro fica próximo aos 35 graus durante o dia, com a umidade relativa do ar muito elevada. A cidade apresenta o pior cenário para um período pré-competitivo, muito calor e umidade, os treinamentos causam um stress fisiológico muito acima do esperado, o nível de desidratação é muito grande, a adaptação ao clima é um processo lento para indivíduos que residem em clima subtropical como Curitiba.
Além dos fatores já descritos, o clima na região influencia no processo de regeneração entre as sessões de treinamento. A atividade no período da tarde deve ocorrer no final do dia, próximo às 18h encerrando-se em torno de 20h, quando o clima está mais ameno, já a sessão matutina deve ocorrer muito cedo, próximo às 7h, quando a temperatura ainda está suportável.
Isto acarreta um período muito curto entre a sessão da tarde e nova sessão matutina, colocando em risco o principal objetivo do treinamento, recuperação orgânica, que promove a supercompensação, o grande objetivo do treinamento físico.
Em geral, as fases pré-competitivas são realizadas em locais preferencialmente com temperaturas mais baixas, que resultam em melhores ganhos fisiológicos e menor stress.
Não participei dessa fase de treinamento e muito menos acompanhei os trabalhos, mas acredito que a escolha do local das atividades pode ter influenciado em um início de temporada com um desgaste fisiológico excessivo, que além aumentar o risco de lesões reduz a capacidade técnica do atleta.
Marcelo Algauer de Almeida – CREF 9117-G/PR
Licenciado em Educação Física – PUCPR
Especialista em Fisiologia do Exercício - UFPR
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