
Reflexões em Verde e Branco
Enfim retorno. Após um período de ausência, do qual me desculpo, mas, ante à delicadeza do momento, preferi o silêncio a gerar debates que poderiam desfocar, afinal, a única coisa que precisávamos nesse momento era de torcida. Torcer para que conseguíssemos os resultados, torcer para que os jogadores mantivessem a vontade de vender e torcer para que a diretoria tivesse sabedoria para gerir esse momento.
Após a tempestade, a reflexão:
O ANO
Apesar de um importante Tetra Campeonato Estadual (importante sim, a hegemonia local e a conquista de uma taça jamais podem ser menosprezados), foi um ano decepcionante, afinal, muitas das esperanças que a torcida alimentou não se concretizaram.
Em uma temporada onde apenas Cruzeiro “destoava”, havia possibilidade real de conquistas extra estaduais, senão via Copa do Brasil, na Sulamericana, onde a Ponte Preta é prova da real possibilidade de sucesso.
Nas mesmas proporções das possibilidades, ocorreram os equívocos. Sejam de gestão, sejam de postura de atletas, sejam de comando... Enfim, após praticamente três anos de estabilidade e de desempenhos surpreendentes até (eu diria), tivemos um ano ruim. Não apenas pela frustração das possibilidades perdidas, mas pela insegurança de tatear novamente com a tradicional (infelizmente) gestão futebolística amadora.
Não cravaria como um ano para se esquecer, muito pelo contrário. Apesar de tudo, mantivemos nossa supremacia estadual e evitamos um descenso. Isso nos dá condições de sentar com calma, reavaliar e ter o ano de 2013 como modelo do que pode dar errado e, a partir disso, traçar metas evitando tais percalços.
É assim que vejo, é assim que espero.
A ADMINISTRAÇÃO
Está aí algo muito complexo de se falar estando do lado de fora e baseando-se no pouco que é transparecido, seja através da imprensa, seja através do “disse me disse”. Mas é fato notório que o “planejamento” traçado (e nosso carro chefe na promoção da própria imagem do Coritiba atual) saiu completamente dos trilhos.
Óbvio que o presidente tem culpa, até mesmo por ser a figura máxima dentro da instituição e ter como inerente ao cargo a canalização das responsabilidades, mas não fica difícil traçar alguns apontamentos mais descentralizados.
Em 2009, Vilson assumiu o clube praticamente sozinho, num momento onde a classe política interna alviverde fez uso dos botes salvavidas, não respeitando nem a preferência de mulheres e crianças.
Após a retomada administrativa e os bons trabalhos realizados nos anos de 2010, 2011 e 2012, começaram a surgir notícias de que Vilson estava se “isolando”, com influentes membros da administração em afastamento. Estaria Vilson se isolando? Ou estariam isolando Vilson, justamente num momento de “mar tranqüilo”, onde as possibilidades numa próxima eleição já cativavam muito mais gente do que em 2009?
Como eu disse, é difícil falar de fora... Mas não cravaria a primeira opção como muitos fizeram. A politicagem no Coritiba é nojenta e há décadas joga contra o clube.
De concreto, pode-se tirar que houve uma cisão entre administração e grupo de jogadores, e está aí um erro da presidência. Talvez confiando muito na figura do diretor de futebol, Vilson não estancou a hemorragia de pronto, fazendo com que os problemas se estendessem e acumulassem, até atingir o ponto do insustentável.
Vejo aí um dos motivos da queda de Felipe Ximenes.
Não houve uma gestão eficaz de grupo, função inerente ao cargo. A questão da montagem de elenco, não seria motivo cabal para uma demissão no transcorrer da temporada, afinal, como já escrevi há algumas colunas atrás, as apostas não foram assim tão às cegas, da mesma maneira que “o encaixe” não é uma certeza, mesmo contratando-se os melhores.
Vilson, isolando-se ou sendo isolado, demorou a perceber a crise que se instalava e agiu tarde. Pior, agiu errado. Trouxe um técnico condizente com a filosofia administrativa do clube, quando o momento urgia que viesse um profissional condizente com a necessidade do elenco.
O planejamento já estava descarrilado, era hora de medidas emergenciais, e não protocolares. Um técnico como Carpeggiani (que chegou a ser cogitado), talvez trouxesse o “pulso firme” que o elenco precisava.
Enfim... São conjecturas, mas que deixam claro que houve uma sequência de equívocos (seja na forma de agir, seja por não agir).
Tentou-se um time forte, em detrimento de um elenco equilibrado. O resultado foi a falta de peças de reposição e salários que extrapolaram as possibilidade do clube. Deu-se muito poder à direção de futebol e muita importância a Alex, o que resultou numa quebra de hierarquia quase que fatal ao Coritiba. Manteve-se a inércia, sob o argumento do “trabalho a longo prazo”, mesmo com mostras de que “o trabalho” já não existia mais.
Como finalizei o item anterior, evitamos maiores traumas afastando o rebaixamento, o que nos dá plenas condições de avaliarmos 2013 como um laboratório, tendo como exemplo os problemas e retomando o planejamento que deu tão certo em 2010, 2011 e 2012.
O ELENCO
O Tetra Campeonato Paranaense, as 11 rodadas invictas no Brasileiro e a liderança no nacional mostraram que os titulares do Coritiba correspondiam às expectativas e exemplificavam a exatidão na montagem desse quadro.
O problema é que as contusões acabaram por revelar um grande equívoco nessa montagem de elenco. Sem 2 ou 3 jogadores titulares, a reposição não mantinha o nível e o time passava de um potencial postulante ao título, para um grupo com desempenho de rebaixado.
Times medianos, mas com um grupo homogêneo, vide Goiás e Vitória, deixaram claro que, num campeonato longo como o de pontos corridos, a regularidade vale muito mais do que o despontar de um excelente 11 titular.
Não obstante, as declarações dos jogadores após a partida última contra o São Paulo, escancaram os problemas entre elenco e diretoria, e aí que eu toco num ponto delicado: Alex.
Evidente que houve um cabo de guerra entre Alex e Vilson. Não me importam os motivos, mas é óbvio que erraram todos nisso. Como tratei acima, Vilson não agiu com relação ao problema como deveria (e como exige a figura do Presidente), mas Alex, na posição de ídolo, ao meu ver, exacerbou sua função de jogador.
Jogador está lá pra jogar, e é aí que considero que errou todo mundo. Líder de elenco, ao bater de frente com direção e tornar isso constantemente público, quebrou a hierarquia, um prato cheio para outros jogadores que, descompromissados, usam dessa premissa para se prevalecer.
Marquinhos não teve pulso para contornar um embate desse porte, Chamusca obviamente não teria... Ximenes pouco fez, e o resultado foi visto por todos nós: Uma dessincronia entre os compartimentos (jogadores, comissão e direção) que por muito pouco não nos levou novamente à segunda divisão.
Pra mim fica óbvio que Vilson e Alex precisam acertar os ponteiros, e, mais do que isso, o clube precisa enxugar a folha, vendendo ou emprestando jogadores que pouco produziram, afim de remontar esse elenco de forma equilibrada. Talvez com menos “nomes”, mas com uma regularidade de peças, capaz de fazer as ausências não serem tão duramente sentidas.
O Coritiba não está num primeiro escalão de faturamento, isso é fato. Portanto, façamos o planejamento dentro na nossa realidade. Há bons nomes no mercado, com menos pomposidade, mas com mais capacidade de homogeneizar o plantel dentro de uma realidade mais plausível.
2013 me soou como um passo um pouco maior que a perna... Que quase nos fez tropeçar seriamente.
A TORCIDA
Os últimos jogos demonstraram que a nossa torcida, quando quer, é um diferencial sem precedentes no Brasil.
A tal Revolução, muito mal falada por uns, mas muito defendida por outros, foi uma tentativa de fazer essa mobilização que se viu nos momentos finais do Campeonato acontecer no Campeonato todo.
O problema é que, em vista dos percalços que tivemos, essa “filosofia” foi distorcida, com muitos rotulando a iniciativa como uma “blindagem” à direção do clube.
Enfim... Os jogos finais foram mostra da aglutinação e da motivação de que nossa torcida é capaz. Mesmo a segunda divisão de 2010 foi prova disso, onde, num momento difícil, a torcida carregou o time no colo e se potencializou com aquela queda.
Assim como os erros administrativos e de grupo foram apontados, não há por que nos eximirmos de nossas responsabilidades também. Quem sabe, se o belo apoio que houve nesse final tivesse ocorrido logo no início da fase ruim, o grupo de jogadores tivesse retomado o bom futebol em tempo hábil de ainda brigar por algo maior!
Não é questão de cegar-se ou blindar a administração, mas assim como exigimos que os jogadores façam seu melhor, é a idéia de fazermos o nosso melhor como torcida, independente do momento. É ser a melhor torcida de todas! Da mesma forma como foram nossos guerreiros que viajaram até Itu e calaram a torcida mandante, sendo fundamental para a vitória e a permanência na séria A.
Por que não isso sempre? Em todos os jogos? Em todos os momentos?
Vale ao menos a reflexão!
Desculpem o texto longo... Mas são itens importantes de levantarmos e refletirmos. Não poderia ter sido feito antes, o momento não permitia. Mas passada a tempestade, é hora da análise.
Ufa, 2013... Você terminou!
Um abraço!!
Luiz Berehulka
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