
Reflexões em Verde e Branco
O título da Copa das Confederações deu a falsa impressão que tínhamos uma boa seleção, salvo uma ou outra peça contestada. Eu mesmo acreditava que esta seria uma das convocações mais unânimes da história... Demorei pelo menos dois jogos para perceber que estava errado e que esse plantel tinha vícios preocupantes.
Um deles, apontado reiteradamente, era a não convocação de um “camisa 10”, de um meia de ofício.
Felipão chamou volantes (alguns sabiam avançar) e meia atacantes (alguns que sabiam recuar), mas nenhum armador, nenhum jogador com visão de jogo suficiente para criar jogadas e distribuir bolas.
Mas o problema não é só esse!
Como são formadas as seleções brasileiras? Realmente são convocados os melhores? As análises fiam-se na qualidade técnica de cada jogador, ou passam por outros meandros como patrocínios, empresários e interesses que sequer imaginamos?
Não gosto de lidar com conjecturas (quem lê o blog sabe bem disso), mas a falta de critério salta aos olhos. E não é por conta desse vexame de ontem, mas sim pela recorrência de muitos e muitos anos vendo atletas merecedores sendo ignorados, em detrimento de jogadores que figuram na seleção sabe-se lá por quê!
Os “experts” da bola criticam o Felipão pela escalação de Bernard (o que, no momento, me surpreendeu positivamente), por ter despovoado o meio campo. Mas eu pergunto: Um meio campo povoado (com mais um volante) teria dado jeito na postura descompromissada com que o time se portou em plena semi final de uma Copa do Mundo? A presença de mais um volante teria contido o “apagão” do time? Teria impedido Fernandinho de perder uma bola imbecil na entrada da área? Teria resolvido o problema do David Luiz ter jogado em posição invertida (muito bem, Felipão) e deixado o lado direito aberto em todos os gols da Alemanha? Teria feito os laterais avançarem e finalmente municiarem o ataque?
Felipão tem culpa sim... Mas não por conta da escalação de Bernard.
Onde ficou Everton Ribeiro, o melhor jogador a atuar no Brasil em 2013?
Ronaldinho Gaúcho, campeão da Libertadores, com menos idade que Klose, não traria alento a este meio campo? E Lucas então?
Até mesmo Alex (que tem a mesma idade que Klose), não caberia num time que simplesmente não tinha um 10 de verdade?
3-5-2, 4-3-3, 4-2-3-1... É isso que nossos técnicos entendem como futebol. É isso que nossa imprensa especializada entende como tática. É isso que nossa torcida entende como verdade.
Ao mesmo tempo em que "Casas Grandes" da vida estão analisando a entrada do Bernard e o número de jogadores que compunham o meio de campo, seguem-se os verdadeiros problemas por completo ignorados.
Enquanto a Alemanha tem sua federação ligada ao governo e investindo em escolinhas e formação de atletas, a CBF continua sendo uma empresa privada com fins arrecadatórios e que promove amistosos “caça niqueis” afim de engordar seu já insuflado patrimônio.
Enquanto o futebol alemão impõe duras legislações e impede as administrações irresponsáveis de clubes (clube com dívida não participa da liga), continuamos com Flamengos da vida oferecendo salários milionários e impossíveis de se pagar, inflacionando o mercado e aumentando a disparidade entre os times.
É preciso sim uma reformulação técnica (não podemos mais admitir treinadores retrógrados, sem qualificação e com salários astronômicos), mas também (e principalmente) é preciso uma reformulação ideológica. Nosso futebol é comandado, em todas as esferas, da mesma forma que o país: No “jeitinho”, na troca de favores, na incompetência e na supremacia do interesse de poucos em desfavor da expectativa de todos.
O lado bom de tudo isso é que, finalmente, nivelamos o futebol ao raso patamar de todas as outras coisas que acontecem nesse país. Finalmente conseguimos uma forma didática de mostrar, a quem não tem o devido discernimento, o quão atrasado estamos e o quanto urgem as mudanças.
Uma pena só que a necessidade de mudança não seja maior do que a atual descrença...
Um abraço!!
Luiz Berehulka
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