
Reflexões em Verde e Branco
Como prometido, e após consultadas diversas fontes com conhecimento de causa e atuantes na área, venho aqui expor o que penso sobre o problema das lesões. Sem revolta, sem apontar o dedo, mas apurando o que, de fato, pode estar acontecendo e deve ser corrigido.
Tudo começou já há muito tempo (não me recordo exatamente o ano), quando virou uma espécie de rotina o Coritiba perder jogadores por lesão muscular em meados do segundo semestre.
A “brincadeira” com “setembro negro” e outro nomes começou a ficar mais séria, e pior, rotineira. Ano a ano aumentando sua intensidade e adiantando seus afeitos... Em 2013 já passamos para “agosto negro” e, em 2014, mal o ano se iniciou em já começamos a encher as prateleiras do departamento médico com atletas lesionados.
Como normalmente acontece com a torcida, começa-se uma caça às bruxas e, via de regra, aponta-se o dedo para alguém... Comportamento este que eu não concordo, afinal, para se taxar alguém como culpado, é preciso estar próximo ao problema, coisa que nenhum de nós está.
A “vidraça” da vez foi Glaydstone Ananias, preparador físico do Clube.
Realmente, o argumento de possível “erro” na preparação física (e daí a ocorrência de tantas lesões musculares) é tentador, afinal, quem é que está próximo dos atletas e trabalha diariamente com essa questão?
Porém, há que se atentar que, todo o entorno que envolve o atleta e diz respeito ao desempenho muscular, é muito mais amplo do que apenas o preparador físico.
Se fosse um problema simplesmente de overtraining (excesso de treinamento), conforme o senso comum insiste em querer apontar, a solução seria simples e não teria tardado a surgir... O fato do problema ser recorrente, sugere que algo muito mais complexo está por trás de tudo.
Glydiston Ananias chegou em junho de 2007, junto com René Simões, vindo exatamente para que? Vou deixar que uma frase dele próprio, à época, responda:
"Sem dúvida. Não é normal! E pelo que foi informado para a gente, vem ocorrendo uma série de lesões. Então, o nosso trabalho agora é prevenir para que não ocorram mais lesões porque é um campeonato difícil, longo e precisamos ter todo o elenco apto a desenvolver o trabalho." (Glydiston Ananias em entrevista ao jornalista Rodrigo Sell, da Tribuna do Paraná, em 18/06/2007).
Se Glydiston Ananias não conseguiu reverter o quadro, e daí balizar o trabalho dele como insatisfatório, tudo bem. Mas imputar a ele a culpa, me parece injusto, pois percebe-se que este profissional já assumiu o Coritiba com o objetivo de reverter um quadro de lesões crônicas.
Em conversa com um amigo, profissional na área, fui alertado para outras peças importantes neste quebra cabeças, peças estas que pouco são lembradas quando se traz à baila esta discussão.
Que o Coritiba está totalmente fora da curva quanto ao número de lesões musculares, é fato. Mas o que geraria tais lesões?
O nosso corpo é uma máquina, e como tal, tem que estar com seus itens em perfeito equilíbrio para que o funcionamento ocorra. No caso de um atleta de alto desempenho, sua exigência muscular trabalha próxima do “limite” e, por isso mesmo, necessita que todo o contexto esteja 100% adequado e equilibrado.
Neste desequilíbrio que acomete o elenco alviverde, aponta-se muito para a preparação física e o rareamento do repouso (devido ao estreito calendário e às partidas em sequência), mas esquece-se de algo tão importante quanto estes pontos: A reposição energética dos atletas.
A dieta dos jogadores e as reposições vitamínicas e protéicas são tão importantes quanto qualquer outro ponto neste gráfico.
Seria a área nutricional a grande vilã?
Como disse lá atrás, não concordo com a postura de “apontar o dedo”, apenas estou levantando outros pontos para debate, pois não acho justo um “cristo” como Glydiston Ananias, num problema de uma complexidade que abrange diversas áreas do Clube.
Marcelo Algauer, ex colunista aqui do Coxanautas, fez uma minuciosa coluna ano passado (e que foi “re veiculada” ontem no Blog da Torcida do Coritiba no Globo Esporte), que trata da pré temporada em Foz do Iguaçu como prejudicial á preparação do grupo.
Com muitas fontes literárias citadas, mostra que a alegada “aclimatação” dos atletas ao calor extremo do oeste do Estado, não os fortalece para a sequência do ano, mas sim os extenua.
Vale a leitura: http://globoesporte.globo.com/pr/torcedor-coritiba/platb/2014/02/23/coluna-3-jogos-e-um-saldo-de-3-lesoes-musculares/
Nutrição? A própria preparação da pré temporada? Uma má gestão da fisiologia?
Enfim... Desculpem trazer um texto longo sem um desfecho definitivo. Mas acredito que sequer o clube tenha um desfecho para a questão. O importante é termos mais subsídios para debatermos de forma concreta, sem “achismos” ou “cristos”.
O que vejo é que, conforme as palavras do próprio Glydiston em 2007 (quando da sua chegada ao clube), o problema é crônico e, em quase 7 anos, pouco se conseguiu resolver.
Talvez seja o caso de um “reboot” no setor... Se o problema persiste mesmo com reformulações pontuais, que se faça uma limpa e comece tudo novamente do zero. O que não pode é ficar como está.
Erros acontecem, é normal... O que não é normal é nós, torcedores, acabarmos virando especialistas em fisiologia de tanto buscar respostas, enquanto o próprio clube mantêm-se inerte!
Um abraço!!
Luiz Berehulka
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