
Visão Feminina
Hoje trago o depoimento de minha amiga Sabine, da listona. Ela, o marido Sérgio e o pequeno Nicholas, filho do casal, moram na Inglaterra e formam, é claro, uma família de Coxa-Brancas. Mas no início não era bem assim. Veja porque...
Como eu virei COXA!
Não sou torcedora há tanto tempo assim, há uns 3 ou 4 anos mais ou menos...
Antes disso...
Bem, deixe-me contar a história detalhadamente!
Nasci em São Paulo, Capital, no bairro do Morumbi...
Teoricamente deveria ser tricolor (até hoje meu irmão não se conforma com isso), mas sempre fui do contra lá em casa. Se torciam pro Flamengo, eu torcia pro Vasco. Se torciam pro Internacional, eu torcia pro Grêmio. Se torciam pro São Paulo, eu torcia pro Corinthians.
Lá pelos idos de 1997 meu irmão veio morar em Curitiba. Recém separado, vivia na balada, e tinha um amigo que o fez torcer para o COXA. Batata. Adivinhem para quem eu fui torcer? Sim, sim.... justamente para aquele time de nome impronunciável! Não era só por causa do meu irmão; eu tinha também vários amigos que torciam para 'aquele' time, e acabaram me fazendo simpatizar por ele. Não era também aqueeeeeeela torcedora. O máximo que tive até hoje foi uma foto com o time – por uma coincidência gigantesca, eu e uma amiga estávamos no aeroporto no dia em que eles embarcavam para jogar em outro estado – um estojo e um adesivo colado na traseira do carro (que por coincidência foi arrancado). Nunca tive nada. Camisa, bandeira, boné, mochila... Nada. Nem mesmo fui ao estádio (ao deles, é claro). Jogo então? Sem chance. Além do mais, minha mãe sempre odiou futebol, e nunca permitiria que eu fosse assistir a um jogo.
Passados os anos, ainda simpatizante do time 'lá de baixo', conheci meu namorado (atualmente marido). COXA roxo! Falar em futebol era discussão na certa. Eu era 8, ele era 80. Sabe como? Podíamos conversar sobre qualquer assunto, menos... FUTEBOL.
Estávamos em 2002, e eu ainda estava na faculdade. Fazia aulas à noite, no Campus da Reitoria na Universidade Federal do Paraná. Meu namorado morava ali perto, numa rua paralela à do Teatro Guaíra.
Saí uma noite da aula, e me dirigia à Praça Tiradentes, pra pegar o ônibus e voltar pra casa. Fui caminhando, como sempre, pelo mesmo lado da calçada, quando me deparo com um ônibus estacionado em frente a um hotel. Vários homens uniformizados desciam dali. Pensei comigo: "Será possível? São jogadores? Do.... COXA? Não custa nada perguntar né..." E foi o que fiz: "Ei, moço! Por acaso vocês são jogadores...... do COXA?" ao que ele respondeu "Sim... somos sim..." e eu "Ahhhh, então peraí! Será que você não me daria um autógrafo?" e ele "Claro!!!" E eu estava ali, pedindo autógrafo pra jogadores do COXA, no meio da rua..... Pensava comigo "O que é que eu estou fazendo aqui?" Passado o episódio, me dirigi à casa do meu namorado, que era ali, quase ao lado. Toquei o interfone e disse: "Abre pra mim! Tenho um presente pra você!" Fui subindo os 7 andares pensando numa forma de explicar aquilo a ele, e não consegui. A porta se abriu, eu sorri e disse:"Oi..." e ele respondeu "Oi... cadê o presente?" Ele só via a mala da faculdade que eu tinha em baixo do braço, mais nada. E eu respondi "Tá aqui dentro da minha mala...." Peguei o papel e o mostrei. Ele, espantado, disse: "Jabá? Danilo? Aonde você conseguiu isso?" e caiu na gargalhada. Eu, já envergonhada, respondi "Ali em frente ao hotel. Parei só pra pegar os autógrafos pra você..." E ele continuou: "Ahã, tá bom. Você não torce pra aquele time coisa nenhuma!" e continuou gargalhando.
Passado o episódio, eu me sentindo a menor criatura da face da Terra, deixei a poeira baixar. Evitava tocar no assunto ou em qualquer outro que remetesse a futebol.
Passado mais um tempo, pegamos o carro e fomos passar um feriado na praia. Passeamos, fomos à praia, e quando voltamos, de noitinha, começamos a jogar baralho. Lá pelas tantas, depois de tanto jogar, ele vira pra mim e diz "Duvido que você coloque a camisa do COXA...." Eu, como toda mulher, retruquei: "Nunca duvide de mim...."
Pois bem. Não era pra duvidar mesmo. Mas, pra não duvidar, eu teria que provar algo, obviamente. E não deu outra. Ele abriu a mochila, pegou a camisa que havia levado e disse "Veste..." Que impasse. Se eu torcesse mesmo para o outro time, eu jamais vestiria aquela camisa, mas teria que cumprir a promessa. O jeito então foi vestir. Vesti. Por alguns momentos tudo parecia estacionado. Eu pensava comigo: "Minha nossa! O que é que eu estou fazendo?" Mas foi a prova que ele precisava.... Logo em seguida ele me pede: "Agora beija o símbolo!", e eu: "Negativo! Já vesti a camisa! Uma coisa de cada vez!" O momento histórico foi registrado, tem até foto. Mal sabia eu que daquele dia em diante eu travaria uma batalha com ele (o meu namorado). Eu não podia abrir mão. Ceder assim? Nem pensar.
Algum tempo depois ele (meu namorado) me pergunta: "Você não tem curiosidade de conhecer um estádio, pra ver um jogo de futebol ao vivo?" Pronto. Naquele momento senti que havia perdido a batalha. Tudo menos isso! Ir ao estádio? Estava perdida!
Chegou o dia. Um domingo, 13 de outubro de 2002, o jogo era Coritiba x Guarani. Assistimos da reta da Mauá. Estava incomodada, desconfortável. Na verdade eu não acreditava mesmo que estava ali, no Couto Pereira, assistindo a um jogo do Coritiba, na torcida do Coritiba. Eu realmente tinha perdido a batalha. Pra desgosto do meu namorado o Coxa perdeu aquele jogo por 1x0, e a culpada era eu, é claro. Ouvi milhões de vezes que eu nunca mais iria ao estádio com ele, que eu dava azar, que até nas 'peladas' que ele ia jogar aos finais de semana, se eu estivesse junto, o jogo estava perdido. Enfim: a culpada era sempre eu. Até que chegou o Campeonato Paranaense de 2004. Aí a história mudou.
Dois jogos da final do Campeonato Paranaense me transformaram. O primeiro, no Couto Pereira, não pudemos assistir, mas o Coxa ganhou por 2x1. O segundo, e não menos importante, na Baixada, assistimos do telão que colocaram no estacionamento do Couto Pereira, debaixo de chuva. Jogo tenso. Pela primeira vez eu sentia que outras cores passavam a tomar conta do meu sangue. Ele já era verde e branco, e quando foi dado o apito final: É CAMPEÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! Não me contive! A alegria era tanta, que peguei o telefone e liguei para minha melhor amiga (sim, ela é torcedora daquele time) e gritei com a voz que ainda me restava: "O COXA É CAMPEÃÃÃÃÃÃO!"
Foi assim que eu passei a amar por esse time...
Foi assim que eu passei a valorizar cada grito de torcedor...
Foi assim que eu passei a considerar o Couto Pereira minha casa e também o palco de tantas conquistas...
Foi assim que eu passei a perder a voz a cada jogo...
Foi assim que eu passei a me arrepiar ouvindo a torcida...
Foi assim que eu passei a chorar a cada vitória...
Foi assim que o meu coração se tornou VERDE E BRANCO!
Obrigada, Sabine, por colaborar com o Blog Visão Feminina. Sua história é realmente muito interessante. Participe sempre!
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