
Visão Feminina
Achei lá no blog do Luiz
http://colunas.globoesporte.com/luizcarlos
Estar novamente disputando a Série B me fez ficar nostálgica. Pensando nos tempos de verdadeiras glórias. Quando quem cuidava do Coritiba o fazia direito. 1985.
Acabei achando a matéria da Placar da época, sensacional demais.
(coloquei aqui a melhor parte, acessem o blog do Luiz para ver todas as páginas)
Achei também o jogo completinho na internet. Desde o primeiro minuto, até os penaltis. Vi e me emocionei.
Graças a isso, vou relembrar do passado postando uma parte do poema de Paulo Leminski, escrito no dia primeiro de agosto de 1985:
"Hoje, quinta-feira, 1 de agosto, em Curitiba, o céu amanheceu branco e verde. Os passarinhos só diziam: Lela,Lela, Rafael,Rafael. E no ar pairava um forte cheiro de pólvora de foguete e pó-de-arroz. Nada mais me restava a não ser filosofar: 'Não se pode ganhar sempre'.
E, guiado por meu atrapalhado coração atleticano, fui até o mastro no meu jardim onde tremula o pavilhão rubro-negro e fiz descer a bandeira de meus sonhos. E foi com um misto de pesar e jubilo que pus em seu lugar e hasteei as campeoníssimas cores do nosso arquiadversário, hoje, aqui e agora, para sempre Campeão Brasileiro de 1985.
Um demônio (ou um anjo?) vestido de preto e vermelho (um Exu?) me sussurrava, brabo com o Tobi na grande area do Bangu: 'Teu time é tua pátria, traidor. Vendeste a alma por um escanteio, Vira-Casaca.'
(...)
Obrigado Coritiba, por essa alegria. Você esteve à altura do teu destino."
Paulo Leminski
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Já que eu estou falando de 85, colocarei também um texto do Mauro Beting, escrito em outubro do ano passado, vale a pena pra quem não leu:
O Bangu era o Rio na final do BR-85. Todas as bandeiras cariocas se uniram pelo clube do subúrbio.
O rival no Maracanã só defendia as próprias cores. Era zebra. Era a sina do Coritiba. É o fardo de qualquer time de Curitiba. Precisa não só vencer os rivais. Também a desconfiança geral.
São tantas barreiras que até o gol do título teve de superar duas delas; a primeira criada pelo competitivo time do treinador Ênio Andrade: dois coxas ficaram à frente da barragem do Bangu. Quando o centroavante do Coritiba correu para fazer história, cada um foi para um lado, a bola foi no ângulo do goleiro Gilmar. Golaço do time dos alemães Hauer. Labsch. Dietrich. Iwersen. Juchks. Obladen. Kastrup. Maschke. Schlemker. Essenfelder. Sobrenomes alemães do primeiro quadro do Coritiba, há 100 anos. Campeão brasileiro nos pênaltis naquela última noite de julho de 1985. Título que começou a ser ganho naquele gol de Índio – nada mais brasileiro.
Rafael. André. Gomes. Heraldo. Dida. Almir. Marildo. Tobi. Lela. Índio. Édson. Onze nomes curtos. Onze gigantes grafados no Alto da Glória. Do primeiro jogo em Ponta Grossa em 1909 à partida da vida coxa-branca em 1985 no Maracanã tem toda uma história. Toda uma torcida que sabe como foi duro ganhar jogos, campeonatos, respeito e admiração. Como é complicado ganhar manchetes no Sudeste. Como é botar um jogador na seleção em três Copas como um 11 que corria pelos 11 – Dirceu. Como é não ter visto um camisa 10 como Alex jogar um Mundial pelo Brasil. Como foi difícil uma bandeira paranaense defender a verde e amarela do jeito que o Coritiba se superou em 1985.
Aquele tiro longo de Índio pareceu levar um século para entrar. E ainda parece que foi ontem. Vieram dores, desamores, derrubadas. Rebaixamentos no tapetão, puxadas de tapete do Clube dos 13, quedas no campo. Acessos no gramado, acessos de raiva por desatinos e destinos mal traçados e bolados. Barreiras que puderam ser superadas com fé. Com coração. Nas coxas bravas e brancas.
De um clube que vence preconceitos. O time dos alemães que foi o maior do Brasil com um gol de Índio numa falta sofrida pelo negro Tobi. O meia foi derrubado por um banguense de camisa branca no estádio Mário Filho, jornalista autor de “O Negro no Futebol Brasileiro”, clássico da literatura esportiva que explica um dos tantos motivos do sucesso brasileiro nos campos – a rica aquarela étnica do país de coxas brancas, pés negros, pernas mulatas, cabeças amarelas, sangue vermelho, e coração verde de esperança.
Bangu pioneiro na escalação de negros entre as elites alvas do Rio e do Brasil no início do século passado. Bangu que vestia todas as cores cariocas na decisão do Brasileirão de 1985, no Maracanã. Foi o Rio inteiro contra o primeiro finalista paranaense do Brasileirão. O Coritiba de campanha irregular, de saldo de gols negativo, que tinha de enfrentar o colosso do Maracanã como zebra. Como um time que superara rivais melhores – ou mais “qualificados” nas manchetes, não no gramado. Um time que venceria nos pênaltis mais um “favorito”. Calando mais uma vez os gritos contrários. O “quinta-coluna” dos anos 40 de guerra mundial era o primeiro do Brasil na redemocratização da Nova República em 1985. Nascido no Dia da Padroeira do país, em 1909.
Parece mentira. Como era “mentira” o apelido do craque daquele ano, o ponta-direita Lela. Tinha perna curta. Coxa grossa. E era coxa firme. Como foram de corpo e alma Fedato, Duílio, Krüger, Bequinha, Miltinho, Zé Roberto, Alex, Ivo Rocha, Tostão, Hidalgo, Leocádio, Tonico, Neno, Nilo, Jairo, Pizzatto, Pizzattinho, Rei. Nomes e apelidos estrangeiros e brasileiros. Rima que foi solução. Que virou seleção. Que virou campeão. Com garra, força e tradição.
Parabéns, Coritiba. Parabéns pelos próximos 100 anos. Estes já são história. E quantas histórias.
Saudades desses bons tempos.
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