E AGORA?
Começa a se dissipar entre a torcida Coxa-Branca o sentimento de tristeza, pessimismo e desconsolo com a terrível situação implantada no Alto da Glória, fruto da sucessão de erros e da incapacidade de gerenciamento de seus dirigentes que culminaram nos atos de selvageria promovidos por algumas dezenas de vândalos.
Mas a torcida Coxa-Branca não é parte nem de um nem de outro grupo que, cada um à sua maneira, fizeram daquele domingo o pior dia dos Cem Anos de existência do Coritiba Foot Ball Club.
O Coritiba já existia muito antes de qualquer dessas pessoas nascer. E ele há de continuar existindo a despeito dos anos, pois a instituição sobrepuja o tempo e transcende às gerações.
Isto é o Coritiba.
Os atos praticados no nefasto domingo são facilmente condenados por qualquer pessoa de bem -- e não poderia ser diferente. Mas há um certo sentido de autofagia que é típico dos paranaenses e que corrói, neste triste momento, também os Coritibanos. Algo como o Abaporu, obra de Tarsila do Amaral, que retrata o autofagismo tupiniquim.
Quem em nada contribuiu para esses acontecimentos recrimináveis não que se lamentar mais. Não se trata de ignorar, relevar ou esquecer o que se passou, mas é necessário levantar, sacudir a poeira e iniciar o trabalho de reconstrução do Clube, com olhos no momento em que será dada a volta por cima.
Quanto antes começarmos, mais próximo estaremos deste dia.
O grande cenário nacional da violência no futebol atualmente é o Couto Pereira. Se as ações que lá se verificaram são condenáveis -- e são! --, elas não podem servir para mascarar ou esconder o que se passou no mesmo dia, por exemplo, no Rio de Janeiro, onde pessoas morreram durante a comemoração do título. Mas a grande imprensa pouco ou quase nada fala, mostra ou escreve a respeito.
Foi decretado que o Coritiba é a bola da vez.
Justamente por este motivo é que temos que unir forças e mostrar quem é o verdadeiro Coritiba.
Ele é a direção incompetente que, por ação e omissão, derrubou o time para a segunda divisão, deixando um rastro de dúvidas sobre dívidas, empréstimos, negociações e outros casos ainda não esclarecidos? Ou seria a torcida que comparece pacífica e entusiasmada aos jogos, que foi novamente campeã de público no Estado?
Seria o Coritiba mais bem traduzido pela ação dos vândalos que depredaram o Couto Pereira no domingo? Ou pelos que pintaram o rosto de verde e branco, fizeram faixas e bandeiras e cantaram para incentivar o time a vencer?
A distinção que precisamos fazer, todos, neste momento é esta: separar o joio do trigo e manter o Coritiba forte. Há 20 anos, outro golpe terrível maculou a história Coxa-Branca quando, por ato administrativo (num caso único e que, curiosamente, jamais se repetiu no futebol brasileiro), a CBF -- desse mesmo Ricardo Teixeira que ainda lá permanece -- derrubou o time para a terceira divisão. Posteriormente, a pena foi abrandada e o Coritiba remetido à segunda divisão.
Mas o Coritiba não morreu porque, já naquela época, tínhamos verdadeiros torcedores que jamais abandonaram o Coritiba.
O Coritiba é eterno porque sua torcida, formada pelos verdadeiros torcedores, eternamente estará do seu lado.
O Coritiba não pode ser resumido na figura de seus dirigentes, muito menos na imagem das pessoas que apareceram nas cenas de batalha campal do domingo.
O Coritiba é, acima de tudo e de alguns, a sua torcida incansável, pacífica e ativa, capaz de fazer -- como tem feito -- festas espetaculares que encantaram o mundo, como o Green Hell.
O Coritiba é, em parte, o que está retratado pelos torcedores que se mobilizaram para tentar limpar o Couto Pereira e também no vídeo abaixo, produzido pelo fiel Coxa-Branca Fernando André. O final do vídeo nos deixa, apenas, um questionamento. Vamos deixar que continuem fazendo isso com o Coritiba?
O Coritiba somos nós.
Vamos canalizar nossa tristeza, decepção e angústia para que se tornem uma única força em benefício do Coritiba Foot Ball Club, razão única da existência de todo esse amor que nos move, nos emociona, nos faz chorar e, acima de tudo, acreditar em dias melhores.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)