PAPO COM O CRAQUE
Alex (à esquerda), ao lado do lateral Rafinha, em visita ao Couto Pereira.
O meia Alex, formado nas categorias de base do Coritiba, e atualmente jogando no Fenerbahçe, da Turquia, publicou em seu site oficial uma entrevista com o ex-meia do Coritiba Luis Antônio Fernandes, o Tostão.
O Professor Tostão, em foto recente.
Os dois são ídolos da torcida alviverde, mas, curiosamente, percorreram o caminho inverso em suas carreiras. Alex foi revelado pelo Coritiba, e, após passagens por outros clubes, brilhou no Cruzeiro de Belo Horizonte (MG), tornando-se ídolo da torcida cruzeirense antes de transferir-se em definitivo para a Europa. Já Tostão destacou-se jogando com a camisa do clube mineiro, de onde veio para o Coritiba, onde fez muito sucesso, conquistando a admiração da torcida Coxa-Branca.
Na entrevista, Tostão comenta sobre o Coritiba hoje e ontem, sobre AtleTibas, sobre o Cruzeiro, e vários outros assuntos. Abaixo, reproduzimos o texto da entrevista publicada na seção "Fala, Alex", no site do meia.
Os COXAnautas trazem ainda para a torcida alviverde o áudio da entrevista com Tostão, que foi dividido em 4 partes. O torcedor Coxa-Branca Alfredo Peracetta Jr. foi quem fez as perguntas em nome de Alex. Para ouvir, clique nos links abaixo.
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4
Alex: Na sua primeira passagem no Coritiba, você não obteve sucesso. Saiu e depois retornou para se tornar um dos maiores jogadores da história do Coxa. O que foi que aconteceu nessa primeira passagem?
Tostão: A primeira passagem que tive no Coritiba eu vinha de um time de primeira divisão, o Cruzeiro, com um trabalho na parte física muito forte e quando cheguei no Coxa eu senti muito, porque eu precisava fazer uma melhor preparação física. Daí saí, fui jogar no interior de São Paulo e consegui retomar meu desenvolvimento. Quando voltei ao Coritiba, aí sim, pude jogar melhor e, conseqüentemente, me tornar ídolo da torcida.
Em 1986, Tostão (na foto, ao lado de Jorge Martinez, no Couto) chega ao Coritiba.
A: Em 1989, o Coritiba teve o melhor time que eu tive a oportunidade de ver. Ganhamos aquele campeonato paranaense dando espetáculo. Quais as recordações você tem daquele time?
T: O time de 89 tinha um diferencial muito grande, os jogadores do meio-campo não tinham posição fixa. Como volante jogava o Osvaldo, que era meia, tinha o Serginho, que era bem ofensivo e nas meias jogava o Carlos Alberto Dias e eu. Então era uma movimentação constante, com os laterais que passavam a toda hora e um centroavante fixo na área, que fazia o nosso pivô. Por isso era muito difícil de sermos marcados, porque todos criavam.
Tostão marcando o primeiro gol na final de 1989, contra o União Bandeirante. Coxa campeão!
A: No mesmo ano, aconteceria uma partida contra o Santos, em Juiz de Fora, que a diretoria decidiu não levar a equipe. depois disso, o Coxa caiu na caneta da CBF. Você acha que, com aquele time, vocês perderiam para o Santos?
T: Não, nós não perderíamos aquele jogo. Nosso time era muito melhor que o do Santos e o que ia mudar era apenas o local de campo (A equipe não foi a Juiz de Fora (MG), onde a CBF havia marcado o um jogo pelo Campeonato Brasileiro entre Coritiba x Santos. O Coxa tinha uma liminar conquistada na justiça comum, para não jogar diante da equipe paulista, pois queria jogar no mesmo horário do Vasco, adversário direto por uma vaga na segunda fase da competição. Mas a CBF ignorou o recurso, deu a vitória da partida ao Santos e rebaixou o Coritiba para a segunda divisão, numa manobra dos tribunais).
A: Como foi saber que tinha um dos melhores times, com chances de ir longe e, dias depois, estar na série-B devido a uma manobra de dirigentes?
T: Foi uma tristeza muito grande, porque sabíamos que tínhamos um time muito bom, mas uma manobra inconseqüente dos dirigentes fez com que não jogássemos a primeira divisão.
A: Bato minhas faltinhas de vez em quando. Já tentei, várias vezes, bater como você fazia, mas nunca consegui. Qual era o segredo para que as bolas caíssem no pé da trave?
T: Você esta de brincadeira comigo, né?(risos) Eu comecei a treinar faltas no Mixto, de Cuiabá. Eu pegava uma camisa em cima e outra embaixo e ficava treinando sozinho, sem barreira e sem goleiro, debaixo de um sol de 40 graus. Quando eu fui para o Cruzeiro eu me aperfeiçoei mais. Eu gostava bastante de bater no canto do goleiro, o que facilitava na hora de virar o pé, eu olhava para o goleiro e batia. Conforme a movimentação dele, eu mudava um pouco a trajetória da bola.
Tostão marcando de falta contra o Cascavel. Categoria.
Alex "batendo suas faltinhas" por Palmeiras e Cruzeiro.
A: Você era um terror nos AtleTibas. Contra eles é sempre melhor, não é?
T: Na realidade, eu sobressaí na minha carreira porque eu ia muito bem nesses jogos mais difíceis, nos clássicos. E não foi só no Coritiba não. No Mixto, quando enfrentávamos o Operário, de Várzea Grande, no Cruzeiro, quando pegávamos o Atlético. O segredo era que eu ficava bem calmo. Além disso, era uma espécie de predestinado, a bola sempre sobrava em boas condições para mim.
Tostão, o terror dos AtleTibas, marcando golaço contra os rivais.
T: A: Você jogou, talvez, na pior época de toda história do Cruzeiro. Como era atuar numa época em que o Atlético era bem superior?
T: O Atlético-MG era bem superior porque tinha oito jogadores de seleção brasileira, enquanto o Cruzeiro tinha bons valores, mas muito jovens. A diferença se dava, basicamente, na maior experiência dos atleticanos, porque chegava na decisão, com oito jogadores de seleção, apesar da nossa equipe ser boa, a maior experiência deles acabava prevalecendo no final.
A: Qual foi o melhor treinador que você teve em sua carreira?
T: O treinador que me deu uma condição de me desenvolver muito bem no futebol foi o Yustrich (Dorival Knipel). Ele era estilo o Leão (Émerson Leão, treinador do Atlético-MG). Era um treinador muito questionado no Brasil, porque era durão e gostava de cuidar de tudo. Eu treinava sozinho com ele, porque foi ele que insistiu em trabalhar meu lado esquerdo. Muito do que eu fui eu devo a ele.
A: Você viu o Pachequinho surgindo. Você acredita que se ele não tivesse tantas contusões teria tido sucesso no futebol brasileiro?
T: O Pachequinho estava no mesmo nível que o Joãozinho, que jogava no Cruzeiro, driblava pra os dois lados, tinha muita velocidade chutava e cruzava muito bem. Mas as várias contusões que ele teve no joelho o atrapalharam sensivelmente. Ele foi perdendo a confiança, foi engordando, os treinadores começaram a não colocar mais ele em todos os jogos. Se não tivesse acontecido isso, com certeza era um jogador com nível de seleção brasileira.
Pachequinho, hoje treinador do Coxa sub-20, teve a carreira marcada por lesões.
A: O que você conta daquela final de 1990, contra o Atlético?
T: Em 1990, foi uma final triste por causa do Berg. Ele é uma excelente pessoa, trabalhadora. Veio de Londrina, colocou o Vica no banco, por mérito dele, mas ele acabou fazendo um gol a favor e outro contra. Infelizmente só lembram do gol contra. Teve até denúncia de suborno, mas não teve nada. O que fizeram com ele foi muito errado e acabaram destruindo a carreira de um cara muito bacana.
A: Como foi, depois de atuar e ser ídolo durante tanto tempo no Coritiba, sair para equipes de menor expressão?
T: Na realidade é triste, porque você sair de uma grande equipe para uma equipe pequena eles não dão a mesma condição e ficava até sem receber. Mas, independente de jogar em time grande ou pequeno, eu sempre consegui desenvolver meu futebol e ser ídolo também.
A: Qual foi a maior dificuldade na transição para a vida fora dos gramados?
T: Eu espero que você não passe por isso, mas naquela época era diferente. Nós não ganhávamos o que se ganha hoje, já que 90% dos jogadores não eram bem remunerados. E quando você pára, você não sabe o que faz e eu fiquei dois anos perdido. Aí conversando com outros ex-jogadores (Édison Borges, Ruizinho, Vavá e Serginho) e montamos uma rede de escolinhas de futebol, que graças à Deus foi muito bem.
Édison Borges (na foto, passando orientação ao zagueiro Felipe) hoje é auxiliar técnico da equipe profissional do Coritiba.
A: E o Tostão comandando a molecada? Qual é o maior prazer ao ver esses meninos desenvolverem seu potencial?
T: Meu maior prazer é o desenvolvimento deles, porque não se trata apenas de futebol, tem todo o caráter social, de colaboração. Eles vão tirar do futebol um pouco da lição para a vida, em diversas áreas.
O Mestre Tostão com os garotos de sua escolinha.
A: O Coxa sofreu nos dois últimos anos. Agora que voltamos à elite do futebol brasileiro, o que deve ser feito para alçar vôos mais altos?
T: Eu viajei agora em novembro para São Paulo e estive no São Paulo Futebol Clube e lá eles tem uma estrutura para o profissional separada da categoria de base. Dessa maneira, eles podem formar melhor o jogador, diferente do que acontece aqui no Coritiba, onde os amadores ficam no mesmo lugar dos profissionais. Então, ele tem que evoluir essa estrutura, basicamente.
A: O que você acha deste futebol jogado hoje em dia?
T: O futebol mudou muito desde da década de 1970, principalmente por causa da força física. Na época, Alemanha e a Holanda, para ficar em dois exemplos, foram duas escolas que se aproveitaram bastante da parte física e se tornaram referência. O futebol brasileiro também não ficou de fora e hoje até você, que é um jogador de extrema habilidade tem que voltar para marcar, coisa que não aconteceria naquela época.
A: Você tinha uma qualidade técnica acima da média. Você acha que os meio-campistas de hoje são mais corredores do que técnicos?
T: Hoje, no futebol brasileiro, temos poucos jogadores acima da média e você é um deles. Um grande exemplo é a seleção brasileira, que tem no banco cinco volantes. Antigamente tínhamos jogadores como Zico, Sócrates, Falcão e hoje o futebol está muito calcado na força física, além dos atletas saírem cada vez mais cedo do Brasil.
A: Muito se fala a respeito das novas caras do Coritiba. Na sua opinião, quem é o maior destaque?
T: Para mim, o maior destaque da equipe é o Henrique, um jogador de força e liderança. Tem também o Keirrison, que é muito técnico, mas o Henrique tem tudo para ser um novo Vica, pelo poder de mobilização. Infelizmente, ele deve ficar pouco aqui no Brasil e num futuro próximo deve estar jogando fora do país.
Henrique: da nova geração, ele é o favorito de Tostão.
Para saber mais sobre a carreira de Tostão, confira matéria especial no site dos Helênicos.
Colaborou o torcedor Coxa-Branca Alfredo Peracetta Jr.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)