ÍDOLO
O ex-capitão e agora torcedor Reginaldo Nascimento
Na noite do último dia 22 de junho o colunista do site COXAnautas Leopoldo Gonçalves Junior e o blogueiro Luiz Carlos Betenheuser Jr encontraram o ex-capitão coritibano Reginaldo Nascimento, o que acabou resultando em uma entrevista publicada no Blog 'A Torcida Que Nunca Abandona'. O jogador, um dos grandes ídolos da torcida Coxa Branca, revelou histórias e estórias emocionantes e bem humoradas acerca do tempo em que vestiu a braçadeira de capitão do time do Alto da Glória.
Foram oito anos de total empenho vestindo a camisa coritibana. De 1997 a 2005, Reginaldo Nascimento personificou a raça Coxa-Branca, liderando o time do Alto da Glória em busca das conquistas. E elas não foram poucas: campeão do Festival Brasileiro de Futebol, em 1997 e dos estaduais de 1999, 2003 e 2004, o ex-capitão Alviverde ainda conta com outra expressiva marca: é o jogador que mais vezes envergou a gloriosa camisa coritibana em edições do campeonato brasileiro: 182 partidas.
Como se os números já não fossem suficientes para comprovar a condição de grande ídolo da torcida coritibana, Reginaldo Nascimento ficará para sempre marcado na história Coxa Branca pela garra, honestidade e liderança exercidas em todas as oportunidades que defendeu o clube verde e branco.
Leopoldo Gonçalves Junior e Reginaldo Nascimento
O bate papo entre amigos, como foi denominado por Leopoldo Gonçalves Junior, começou com o ex-capitão Alviverde relatando a importância do Coritiba em sua vida: "Se fosse um livro, o Coritiba iria merecer uma parte assim (mostrando com os dedos, numa referência a uma grande parte), pois ele mudou minha vida. Devo muito ao Coxa e sou grato a ele", e continua: "Hoje, sou torcedor. Fui no Couto no AtleTiba da final e levei dois amigos que não conheciam. Fora de campo é mais difícil".
O agora torcedor Nascimento fez questão de afirmar tudo o que o clube lhe representa: "A minha vida mudou graças ao Coritiba. Com meu trabalho, ajudei minha família, conheci o Brasil e ainda sou reconhecido pelos torcedores, que me tratam com carinho e respeito. Isto não tem como ser esquecido e por isto sou muito grato ao Clube".
Reginaldo também relatou o momento em que chegou ao Coritiba, recordando-se do bravo volante Claudiomiro - titular até então: "Eu ficava no banco e via Claudiomiro ser expulso e sair de campo aplaudido. Não entendia". Com o tempo, pode aprender que a torcida coritibana exige total comprometimento de seus atletas, segundo as próprias palavras de Claudiomiro, à época: "Nascimento, aqui no Coritiba é assim, a torcida gosta de jogador raçudo, valente, que joga sério. Joga assim que eles te apoiarão”!
Os momentos marcantes com a camisa verde e branca foram muitos. Simbolizando toda a raça que sempre marcou o seu futebol, Nascimento sofreu uma fratura no rosto ao disputar uma bola com um jogador do Figueirense, numa partida disputada em Florianópolis. Atadura na cabeça, sangue na camisa verde e branca e muita disposição para alcançar a vitória. Descontraído, o ídolo coritibano conta que toda esta disposição não foi suficiente para a marcação de muitos gols ao longo da carreira: "Tinha prometido marcar um gol para o aniversário da minha filha. Mas demorou um pouquinho para isto ocorrer".
A emoção maior, no entanto, aconteceu em 1999. O Coritiba estava na fila do título estadual desde 1989 e a conquista do Campeonato Paranaense daquela temporada inundou as ruas de Curitiba pelo mar de torcedores Alviverdes. Nascimento conta que: "Demoramos três horas para chegar ao Couto. Era uma multidão gigantesca nas ruas, era impressionante. Atletas mais experientes, que passaram por clubes de massa ficaram impressionados com a força da torcida Coxa”. Uma curiosidade daquele dia envolveu o personagem principal da decisão. Ao falar sobre o meia atacante Darci, autor do gol de empate em 2x2 contra o P. Clube, que garantiu a taça para o Cori, Nascimento se recorda da 'profecia' do companheiro de time: "Ele era um cara pacato, tranquilão, e demorou para sair do hotel (que ficava próximo da reitoria da Universidade Federal). O ônibus estava saindo e ele chegou com a mala nas costas, falando: ‘Vocês vão esquecer o cara que irá marcar o gol do título?’".
Em 2003, outro ano vitorioso para Nascimento, o Coritiba alcançaria, com muita luta, uma das vagas à Taça Libertadores da América do ano seguinte, ao terminar o campeonato brasileiro na quinta colocação. Nascimento relata que a união foi a tônica daquela bela temporada: "Era um excelente elenco, muito unido, dentro e fora de campo". Ressaltou, ainda, a importância de outros dois companheiros daquele valente time: "O Brum, com aquele jeitão dele de falar, era muito importante pro elenco. Outro jogador que era muito importante era o Fernando. Ele estudava os outros times, sabia quais jogos e como jogar para pontuar. Conversávamos sobre isto e eu repassava pro time, pois era o capitão. O Fernando foi importantíssimo na campanha da Libertadores".
No ano seguinte, outra inesquecível conquista Coxa Branca: na baixada, precisando do empate para se tornar bicampeão estadual, o Cori seguia para os vestiários, perdendo o jogo por 3x2 contra o A. Paranaense. Durante o intervalo da partida, o centroavante Aristizábal fez um pedido aos defensores: "O Ari chegou para mim e para o Fernando e falou: ‘Nasci, Fernando, pô, segura lá atrás esses caras que nós vamos ganhar o jogo lá na frente. Não tomem mais gols que eu garanto, vamos ganhar o título". Não deu outra, na volta ao gramado, os defensores 'garantiram lá atrás' Tuta empatou a partida, fazendo a baixada se calar - Coritiba Bicampeão Paranaense.
E sobre a torcida? Seu apoio é decisivo para o sucesso do time em campo, Nascimento? "Sim, torcida ajuda e muito. Ela faz a gente se desdobrar. A torcida do Coritiba é muito importante pro Clube, ela fez o Coxa crescer nos últimos anos. Eu lembro bem, pois quando cheguei aqui era muita pressão. Nos anos seguintes, a torcida apoiou e o time cresceu. É difícil enfrentar o Coxa no Alto da Glória contando com o apoio da torcida.A torcida é muito importante pro Coritiba, inclusive quando viaja. O jogador se sente prestigiado, é importante ver a faixa dela lá nos estádios pelo Brasil. A gente sabia que ela estaria ao nosso lado"!
Alguns dos mau momentos mais sentidos pelo ex-capitão Coxa Branca se deram em duas oportunidades. A primeira quando desperdiçou a cobrança de uma das cinco penalidades máximas que decidiu o campeonato paranaense de 2005, frente ao A. Paranaense. Nascimento conta que "Encontrei um senhor no meu prédio e ele veio me falar, muito educamente, mas com dor: ‘Há dois dias que não consigo dormir devido àquele pênalti. Coisas assim marcam a vida da gente, mostram a importância que o jogador de futebol tem para o povo".
A outra, sem dúvida, foi o rebaixamento ocorrido naquele mesmo ano. Para Nascimento, inúmeros fatores levaram o Coritiba para a Série B, destacando a perda do atacante Alexandre Bambu, vendido para o futebol do exterior: "Ele era um atleta muito tático, fundamental para a equipe. Além de marcar gols, ele segurava o jogo lá na frente, cavava faltas, cartões amarelos para os adversários. Ele conseguir dar um ritmo de jogo muito tático para a gente. Ao perder vários atletas durante o ano e os que vieram não conseguindo repetir o bom desempenho, a coisa se perdeu".
Luiz Carlos Betenheuser Junior ao lado de Reginaldo Nascimento
Nascimento fez questão de ressaltar a importância dos cuidados com as categorias de base, ao mencionar a revelação de grandes jogadores por parte do Coritiba, caso de Miranda, Rafinha, Adriano e tantos outros atletas: "Ao subir para o time principal, a vida do atleta muda muito rapidamente. É muito diferente do ambiente de juniores, é muito maior a pressão da torcida, a exposição e a cobrança por resultados. Os jogadores precisam se cuidar dentro e fora de campo e serem bem orientados no Clube".
Sobre o lateral direito do Schalke-04, Nascimento se recorda de sua estreia: "Foi num jogo lá em Campinas, contra a Ponte Preta, um adversário sempre difícil. Lá pela tantas do jogo, o Rafinha resolve ir para o ataque como um trator… Eu falava, ‘Fica, Rafinha, fica!’, mas quem diz que o Rafinha parava?". No intervalo da partida, depois de ouvir tanta 'bronca' do capitão, Rafinha tentava contemporizar, dizendo: "Pô Nascimento, desculpa aí capitão, mas eu tinha que ir naquela jogada!"
Uma das coisas que mais emociona o ídolo coritibano é o carinho da torcida Coxa Branca por seus ex-jogadores. Certa vez, numa viagem de trem com a equipe de Masters do clube - comandada por Marinho, Nascimento constatou e se emocionou com as atitudes da torcida, "Foi emocionante ver o carinho da torcida com os ex-jogadores. Isto faz bem para a vida, ser lembrando com respeito e carinho depois de tanto tempo. Isto mostra pra gente o quanto os jogadores são importantes na vida dos torcedores, que o desempenho deles pode fazer o torcedor ganhar ou perder o dia”, relata com emoção.
Dos grandes jogadores da centenária história Coxa Branca, Nascimento demonstra um especial carinho pelo craque Tostão. "O Tostão é genial, uma pessoa brilhante, um jogador espetacular e que tem muito a ensinar ainda. Ele tem uma escolinha, entende de futebol, aproveitar o conhecimento de ex-jogadores que têm ligação como Coxa, como o Jairo, o Tostão, é algo que poderia ser melhor explorado. Eles têm história pra contar e é diferente quando um piá da base se relaciona com um ex-jogador tão respeitado pela torcida, que tem história, títulos, vivência no Couto Pereira”, conta.
Para finalizar o emocionante encontro, Nascimento explica o que o clube do Alto da Glória representa em sua vida: "Levarei pela vida a importância do Coritiba para mim. Sou grato pelo que pude conquistar jogando pelo Coxa e pelo que vivi durante tantos anos. Depois de tanto tempo, ainda ser reconhecido (e até cobrado nas ruas “Você tem que voltar prá lá, Nascimento!”). Isto faz bem para gente, saber que de alguma forma fui importante para pessoas que eu não conheço e que ficaram felizes com uma vitória, um título, um dia de felicidade pra eles”.
Reginaldo Nascimento. Muito mais que um nome, um símbolo da raça Alviverde. Um jogador dedicado, líder e exemplo para os mais jovens. Como cidadão, um exemplar pai de família, honesto, amigo e um ser humano incomparável.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)