ÍDOLO
O zagueiro Fabio Zambiasi teve uma passagem marcante pelo Coritiba na década de 90. O jogador vestiu a camisa Coxa entre as temporadas de 1995 e 1997.
Não é exagero dizer que Zambiasi fez história com a camisa alviverde. Logo que chegou, o jogador ajudou o clube a conquistar o tão sonhado retorno à 1ª Divisão, após um longo período na segundona.
De acordo com levantamento dos Helênicos, Zambiasi é o defensor que mais marcou gols com a camisa do Coritiba. Foram 18 gols em 144 partidas, um gol a mais que Oberdan.
Infelizmente, Zambiasi não chegou a conquistar títulos com a camisa alviverde. O jogador deixou o Coritiba semanas antes do Coritiba vencer o Festival Brasileiro de Futebol. Em seu lugar, Flávio fez dupla de zaga com Rogério Prateate.
Nesta entrevista concedida com exclusividade aos COXAnautas, o ex-jogador comenta detalhes de sua passagem pelo Coxa, fala da torcida, e, claro, dos AtleTibas.
COXAnautas - Jogar no Coritiba foi algo marcante na sua carreira? Por quê?
Zambiasi - Foi, porque foi meu primeiro time grande na minha carreira. Aprendi a gostar do time, pois, na época, passamos muitas dificuldades, e tivemos a felicidade de montar uma equipe muito boa, principalmente no primeiro ano.
Você ainda acompanha o Coritiba atualmente? Virou torcedor do clube?
Naturalmente, mesmo que de longe, sempre fico acompanhando o Coxa. Fiquei apreensivo com a queda do clube pra segunda, mas até pensei que já no primeiro ano voltava, mas não deu. Agora, sim, tudo voltou ao normal. Torcedor até diria que não, mas tenho uma queda por esta camisa. De todas que usei, foi a mais marcante na carreira.
Qual foi o jogo mais marcante na sua passagem pelo Coxa?
Houve vários, muitos mesmo, mas vou te falar de dois que ainda tenho lembranças muito fortes.
O primeiro foi o jogo em Fortaleza, contra o Ceará. Lembro que precisávamos vencer para chegar entre os 4 para a disputa das finais do brasileiro da série B em 1995. Vencemos por 2 a 0 (fiz o primeiro de cabeça) e conseguimos a vaga na final, e depois, consequentemente, a vaga para a série A do brasileiro. Jogaço.
O segundo foi um AtleTiba na baixada, em 96, e valia a vaga na final do Paranaense. A promessa durante a semana era de uma guerra, Atletiba valendo a vaga, coisa de louco. Na época, até acho que o Atlético tinha melhor equipe individualmente, mas o Coxa era o Coxa na hora H, e assim foi. Começou a chover já na quarta-feira e não parou até o dia do jogo. Foi um Atletiba daqueles, e conseguimos a vaga. Empatamos em zero a zero, muita festa e orgulho acima do normal por termos a honra de termos vestido aquela camisa alviverde naquele dia. Poucos têm a felicidade de passar por uma satisfação como aquela. Foi coisa de gente grande mesmo, e com certeza ficou na história, pois já são passados mais de 10 anos e por muitas vezes ainda sou indagado sobre o tal Atletiba (inclusive pelos COXAnautas). É um daqueles dias que marcam a vida de um atleta, de uma torcida e do clube.
Qual foi o treinador com o qual você mais gostou de trabalhar?
Cada um tem uma marca individual, mas a quem devo muito, até mesmo pela oportunidade que ele me proporcionou, e com quem eu tinha uma afinidade muito grande, foi o Carpeggiani. Grande pessoa, caráter muito bom, torcedor, e acreditava cegamente no seu trabalho, mesmo que sua opinião não tivesse aprovação. Cara que daria pra se espelhar. Grande pessoa.
Qual o melhor time do Coxa em que você jogou?
Tinha que ser um time de uns 20 jogadores, porque foram épocas diferentes, em situações diferentes, em dificuldades diferentes. Lembro-me muito do time de 95. Tinha uns remanescentes do ano anterior e muita gente nova chegando. Vencemos muitas barreiras com muita união e lealdade. Chegamos à final do Paranaense e subimos para a Série A. Uma família e tanto. Depois vieram os Brasileiros e novos regionais, também com gente boa, e ruim também, como em tudo.
Vou tentar fazer uma mescla das duas épocas. Se pudéssemos ter este time junto na mesma época, acho que iríamos incomodar: Anselmo,Marcos Teixeira, Zambiasi, Toninho e Claudiomiro; Paulo Sérgio, Marquinhos Ferreira, Alex e Ademir Alcântara; Magrão e Pachequinho.
Qual sua maior frustração com a camisa do Coritiba?
Ter saído do clube sem ter conseguido dar um título regional, e foram 3 oportunidades. Coisas do futebol.
Que impressões o comportamento da torcida do Coxa te deixou na memória?
Amor ao time. Lembro-me de um dia ter ido a um jogo importante, e eu estava de fora, não lembro se por cartão ou por contusão. Após o jogo, estava voltando pra casa de carro e pude ver a reação dos torcedores sobre o jogo, que vencemos, a satisfação pela conquista, e, lá pelas tantas, fui reconhecido por uns torcedores. Senti mesmo o amor e o agradecimento deles por eu ser um deles. Vi gente chorando, gritando, brigando, sorrindo, de tudo por amor a esta camisa. Coisa linda de se ter na memória.
Era muito diferente jogar um AtleTiba?
AtleTiba era um jogo à parte. Era uma cerimônia, um jogo para se jogar com o que tinha e o que não se tinha. Se respirava, comia, dormia AtleTiba, uma semana antes e uma depois do acontecido. Tudo era observado, todas as ações ou palavras eram somadas ou usadas contra o adversário. Quanto menos se falava ou comentava era melhor. É daqueles jogos que tu sente o sangue correr pelas veias.
E aqueles dois gols no clássico, com chuva e tudo? Conte um pouco deste jogo para a garotada que não te viu jogar.
Aquele jogo foi um pouco atípico. Lembro que, numa quinta feira, estávamos treinando, e num lance acabei caindo e quebrei dois dedos da mão direita. Fiz raio x e ficou comprovada a fratura. Voltei ao estádio já com o gesso, e o treinador me chamou para uma conversa. Foi mais ou menos assim:
- Po, tu me f... e agora pro clássico?
- Como assim?
- Quem é que vai ser o zagueiro?
- Eu, ora!
E, a partir daquele momento, ele sabia que podia contar comigo. "Mas como é que tu vai jogar um AtleTiba com 2 dedos quebrados?", perguntou o técnico. Falei pra ele que tinha outros 18 bons, e que 2 quebrados não fariam diferença nenhuma. E assim foi o Atletiba, 2x2, e acabei recompensado com os 2 gols do Coxa. Tenho a fita deste jogo, e, por vezes, pego meu filho revendo este jogo. Traz lembranças de uma época muito boa de minha vida.
Confira a ficha técnica deste AtleTiba, gentilmente cedida pelos Helênicos.
Coritiba 2x2 A. Paranaense
Data: 25/05/97
Local: Estádio Couto Pereira
Árbitro: Luís Carlos Pinto de Abreu.
Público pagante: 26.043 torcedores.
Gols: Paulo Miranda (A) aos 35´ do 1º tempo; Zambiasi (C) a 1, Paulo Rink (A) aos 28 e Zambiasi (C) aos 31 do 2º.
Cartão Vermelho: Reginaldo (A).
Coritiba: Anselmo; Alexandre, Flávio, Zambiasi e Sandro Neves (Gustavo); Embú, Claudiomiro, Dirceu e Piá (Roberto Carlos); Basílio e Alex. Treinador: Dirceu Krüger.
A. Paranaense: Ricardo Pinto; Luizinho, Reginaldo, Andrei e Ronaldo; Alex, Bernardo, Paulo Miranda e Piekarski (Fábio Melo); Oséas e Paulo Rink (Leonardo Bell). Treinador: Jair Pereira.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)