Sociedade Anônima do Futebol
Por: Jorge Junior
Foi ao ar na noite desta segunda-feira a entrevista do COXAnautas com Glenn Stenger, 1º vice-presidente do Coritiba. Nela, o editor Ricardo Honório e o jornalista Rogério Scarione foram a fundo no assunto do momento, a transformação do Coritiba em Sociedade Anônima do Futebol, com a intenção de levar o máximo de informações possíveis ao torcedor Coxa-Branca, buscando ajudar ao sócio do clube em sua escolha na Assembleia do dia 23/12, quando se votará a possibilidade da transformação do Coritiba em SAF.
Dentre os vários assuntos abordados, Glenn Stenger deixou claro que o Coritiba só se tornará viável futuramente se a SAF for aprovada, caso contrário, o clube terá grandes dificuldades para se manter.
Confira os principais trechos da entrevista:
Por que o sócio deve votar “Sim” pela transformação do Coritiba em SAF?
Depois de muito estudo sobre a situação das equipes, chegou-se ao modelo da SAF, para que o futebol seja viável no país. Se o atual modelo de Associação continuar, os clubes não sobreviverão por muito tempo. Isso vai ocorrer porque a maioria dos clubes estão em situação muito delicada economicamente. O modelo atual não permite investimento de pessoas fora do clube por não se ter segurança, pois, a cada três anos, no caso do Coritiba, a gestão muda e as diretrizes podem também mudar. Da mesma forma, o país também não possibilita garantias jurídicas sólidas.
O prazo para divulgação e votação da SAF não é muito curto?
Não. Ainda que o prazo final fosse dezembro de 2022, se o torcedor, o associado não buscar informações, não se chegará ao objetivo. A diretoria tinha em mente dois planos, um já completamente descartado, que seria a transformação total do clube e outro que será elucidado a partir da aprovação da SAF na Assembleia Geral dos Sócios. Pelo estatuto do clube, a transformação em SAF já poderia ter sido feita, porém a gestão procura ser o máximo transparente possível e trazer o torcedor para tomar a decisão em conjunto.
O clube não deveria mostrar ao torcedor, da forma mais clara possível, todos os detalhes deste processo?
O Coritiba vai apresentar todos os aspectos da proposta, utilizando-se de todos os canais de interação possíveis. O processo ainda está ocorrendo, apesar do tempo escasso até a votação. O cronograma de envio para os associados já está definido. Tudo será feito de maneira muito didática. Até dia 18 de dezembro, todas essas informações estarão ao alcance do torcedor. Tudo que está contemplado na lei será repassado aos votantes.
A aprovação do projeto pelos sócios não será um “cheque em branco” para a diretoria gerir o clube como quiser?
É exatamente isso que vai acontecer. Toda diretoria tem essa prerrogativa, exatamente por causa do modelo vigente. A grande diferença no modelo desejado por essa diretoria é que, a partir da SAF, os dirigentes poderão ser responsabilizados civil e criminalmente por qualquer ação fora do estatuto.
Como será o material disponibilizado?
Muito lúdico, básico até. Bastante didático e fugindo da tecnicidade usual nesses projetos; para que sócios de todos os níveis de entendimento e compreensão possam votar de forma equânime. O maior interessado na aprovação do projeto é o clube, por isso a maior clareza possível será buscada para levar aos votantes o máximo de informação.
Apesar de os investidores terem outras possibilidades para alocar dinheiro, por que no futebol e por que no Coritiba?
Para a diretoria, o investidor é o terceiro passo neste processo. O primeiro é equacionar as dívidas, que são volumosas, e tendem a ser ainda maiores. O clube não tem futuro com essa dívida, e, em pouco tempo, a continuar no modelo atual, vai precisar penhorar os seus ativos. O segundo ponto é ter todos os pontos relativos aos métodos, processos e estatutos postos em prática, por profissionais escolhidos pela direção do clube. A partir deste ponto é que vem o investidor. Por isso da urgência da aprovação, o tempo que demora para toda essa implantação será longo, ou seja, não será em um ou dois meses que o Coritiba vai se projetar nacionalmente. A implantação da SAF, em princípio, levará em torno de seis meses.
Por que o futebol seria atrativo para os investidores?
Apesar de não contar com a segurança de investimentos mais comuns, o futebol possibilita ganhos muito superiores. O risco é maior, mas o ganho é incomparavelmente maior. Pode-se, por exemplo, gastar 500 mil no processo de formação de um jogador que seja negociado no futuro por algo em torno de 50 milhões.
A falta de credibilidade dos clubes e maus gestores não poderiam afastar investidores?
A questão da governança, possibilitada pela SAF, é um dos chamarizes de investidores. Com gestores que devam seguir um projeto, com a possibilidade de serem responsabilizados por suas ações, o mercado se abre ao investidor, que busca tanto segurança quanto lucro no investimento. Em torno de 90% do valor investido possivelmente virá de investidores estrangeiros. Como exemplo tome-se o clube da baixada, que, tão logo consiga equacionar sua enorme dívida, já, segundo Glen Stenger, tem dois possíveis investidores.
E o Coritiba? Já tem tratativas com investidores?
Ainda não. Glen disse ter conversado reservadamente com investidores, mas não em nome do clube. Somente para ter uma percepção do que pensam essas pessoas. Primeiro são necessários os dois passos anteriores, quanto melhores e mais claros, maior a possibilidade de atrair ótimos investidores. Como vários times no Brasil estão neste processo, há muitos investidores vindos ao país.
O Coritiba já está no caminho da governança?
Sim. Todos os processos estão sendo geridos da maneira mais profissional possível, mas ainda não é o suficiente para apresentar aos investidores; e, neste ponto, o coirmão está muito à frente do Coritiba.
O Coritiba vai contar com parceiros na busca por investidores?
Sim, e já houve até contatos. São esses parceiros que intermedeiam o clube e investidores.
Pode ocorrer com o Coritiba o que aconteceu com o Figueirense?
Não. O time de Santa Catarina fez esse processo num momento de desespero, quando ainda não se tinha clareza sobre todos os aspectos que envolvem uma SAF.
A implementação da SAF pode alterar cor de camisa, hino, escudo, mudanças no estádio?
A não ser que o Conselho Deliberativo proponha e seja aprovado, tais ingerências são impossíveis. Toda a tradição do clube não tem relação com a SAF. O alcance da SAF é tão e somente com o departamento de futebol. As receitas e despesas do futebol estarão sob influência do estatuto da SAF. Se o clube entender que a SAF não esteja conduzindo conforme o contrato, há meios de se destituir quem a esteja gerindo, o acordado não é "ad aeternum", ou seja, para sempre. Existem maneiras de resguardar os interesses da instituição.
Quem será o gestor da SAF?
Alguém de fora do clube com visão empresarial, executivos do mercado que buscam resultado financeiro e esportivo e receita maior que despesa. Porém, o modelo de gestão proposto pelo Coritiba contempla a instituição como detentora do controle majoritário das ações.
O Coritiba pode vir a ser um time de dono?
De forma alguma. O que se tem é um investidor que seguirá as regras propostas pela instituição. Não existe o medo de o Coritiba ser vendido. Não há a possibilidade de transformação total do Coritiba em SAF, o próprio Conselho Deliberativo impede isso.
Como é a questão financeira da SAF com relação ao clube?
Nos cinco primeiros anos, 20% da receita da SAF será revertida para pagamento de dívidas do clube. Outras receitas e alocações da SAF serão discutidos quando da criação do seu estatuto específico.
Quem avaliará o trabalho da SAF?
Alguém escolhido para a tarefa e que tenha o conhecimento necessário. Para a SAF, a paixão pelo clube pouco conta, o que interessa é a boa gerência e o lucro advindo. E quanto maior o lucro obtido pela SAF, mais o clube é beneficiado.
Por que a meta do Coritiba é de 60 mil sócios?
Porque somente essa receita poderia custear o clube, sem a necessidade de qualquer outra fonte de receita. O clube seria autossustentável.
A SAF mudaria algo com relação às eleições do clube?
O Conselho Deliberativo está fazendo uma reforma no estatuto do clube. Vários pontos estão em vias de mudanças específicas. O COXAnautas conversará com com Jamil Ibrahim Tawil Filho, presidente do Conselho Deliberativo, na próxima semana, para esclarecimentos. A SAF não tem poder para fazer nenhuma alteração.
Quais são os riscos de não aprovação da SAF?
Hoje não existe outra alternativa, não há plano B ou C. Se não houver a implantação da SAF, o Coritiba dos próximos anos sobreviverá com extrema dificuldade. A SAF não salvará o clube em pouco tempo, mas proporcionará à instituição trilhar um caminho sem volta, um caminho para a recuperação do clube.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)