Atletiba
Foto: Maringas Maciel
Até em bate bola de campinho de bairro, onde tivesse um cara com a camisa do Coxa e do outro lado um atleticano, o pau comia solto. Acirrava a disputa e ninguém queria sair dali como perdedor. Quem com mais de 40 anos não viveu pelo menos algo parecido.
Em atletiba, valendo mesmo, no Couto ou na baixada, deu à brincadeira proporções de grande rivalidade, mesmo que não valesse muita coisa, porque atletiba é assim. Algumas vezes superou dificuldades que, um ou outro podia estar vivendo naquele momento. Atletiba sempre foi atletiba... da disputa da bolinha de gude ao futebol profissional.
O atletiba do Youtube, do ano passado, aquele que não houve por conta de uma liminar, que não aconteceu e mesmo assim foi pra história com uma grande marca. Tivesse sido com qualquer outro adversário, não teria tido tanta repercussão. A cena dos dois times em volta do circulo central, de mãos dadas, simbolizando união dos dois, em protesto contra a Federação de Hélio Cury, foi inesquecível. Atletiba é assim mesmo, marca até quando não acontece.
Semanas depois daquele dia, as duas torcidas voltam a se encontrar como há muitos anos não acontecia com o Couto voltando a receber um público digno de seu tamanho. Só que desta vez não para ver a bola rolar, mas com mais um show de Coritiba e Atlético na arquibancada, sem protagonistas no gramado. Foi para se solidarizar com uma cidade, uma família, dividir uma dor que deixou o estádio pela primeira vez pequeno, tamanha a emoção sentida ali dentro, na homenagem ao povo de Chapecó, na tragédia do voo da Chapecoense. Um atletiba sem futebol, sem jogadores em campo, mas de união das torcidas que também precisa ser lembrado como um show das duas torcidas.
Atletiba de bola rolando, tem cheiro de frango com macarronada de domingo. Precisa ser jogado no domingo à tarde pra ser um legítimo atletiba. Não como muitos disputados recentemente, como o da Vila Capanema, num meio de semana à noite.
Atletiba é no domingo, que começa no sábado, com camisas verdes e brancas e vermelhas e pretas pelas ruas, de bandeiras pra fora dos carros, que passam buzinando. De vendedores ambulantes espalhados pelas esquinas próximas ao estádio que vai sediar o jogo.
Da provocação das torcidas se enfrentando na Boca Maldita, medindo força, mas só no grito.
O atletiba começa na semana anterior, no colégio, com provocações permitidas só no recreio todos com direito ao grito e defesa de seu clube, depois, só os vencedores falam.
Atletiba do inesquecível 1x0, gol de Passarinho, mas que na véspera teve a torcida do atlético desfilando pelo centro da cidade com um elefante, recém chegado com um circo à Curitiba. Vestiram o elefante de vermelho e preto e saíram pelas ruas se exibindo. Vencemos aquele clássico com gol de Passarinho, um ponta direita veloz, vindo do interior do Estado. Durante meses os vermelhos ouviram o canto: “um elefante incomoda muita gente, um passarinho incomoda muito mais”!
Este ano, só teremos atletiba no regional, com os dois clubes anunciando times mistos. Um clássico com time misto e outro com reservas ou time B, como alguns preferem chamar. Tirando o glamour que o clássico merece. Mas seja lá como for, será um atletiba.
No país inteiro os clássicos regionais são valorizados nos campeonatos estaduais. No brasileiro ganha outra roupa. Flaflu, Grenal, Bavi, Cruzeiro e Atletico... porque parece ser a única graça que encontram na disputa dos regionais.
Que seja mais um atletiba. Que seja o clássico do nosso renascimento. Do momento que vamos reencontrar a força que não temos tido. Que seja com vitória, que não deixe dúvidas e nos coloque finalmente nos trilhos. Acreditar nisso, uma nova vida a partir de um atletiba, é admitir a importância do clássico.
Pra cima deles, Coxa!
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)