Memória Coxa-Branca
Por: Felipe Rauen
Em 1966 a seleção brasileira fez a sua pior apresentação da história em Copas do Mundo. Mesmo com um time recheado de craques que vinham como bicampeões de 1958-1962, inclusive Garrincha e Pelé, foi eliminada na primeira fase, com duas derrotas, uma para Portugal por 3 x 1, e outra para a Hungria também por 3 x 1, sendo que por esta já tinha sido derrotada na Copa de 1954 por 4 x 2. A Copa de 1966 ficou marcada pelo então denominado “futebol-força” e muitos questionavam se a qualidade e a beleza do futebol brasileiro terminaram sepultadas pelo novo modo de jogar (que felizmente não durou muito).
Pois naquele mesmo ano assumira a presidência do Coritiba o saudoso Evangelino da Costa Neves e em um dos seus primeiros lances de ousadia, aproveitando-se de excursão que o selecionado da Hungria fazia, marcou um jogo contra o Coritiba no dia 03 de dezembro.
Foi um estupor na imprensa nacional, que imaginava que os húngaros massacrariam o nacionalmente inexpressivo Coritiba e levaria o Brasil a mais um vexame. Muitos jornalistas do centro do país – entre eles João Saldanha, Armando Nogueira e Orlando Duarte – vieram acompanhar o jogo. E como na época ainda não havia transmissão de jogos pela TV, muitos outros jornalistas, que não haviam visto a derrota do Brasil na Copa, vieram a Curitiba para ver a badalada seleção da Hungria.
Como o estádio então Belfort Duarte lotado (ainda sem a configuração atual) e o time formado por Joel, Zé Carlos (emprestado pelo Água Verde), Nico, Berto e Reis; Lucas e Hugo; Oromar, Paulo Vecchio (emprestado pelo Ferroviário), Walter e Humberto (Krüger havia fraturada a clavícula e ficou fora), o Coritiba começou a jogar sem temor e procurando se impor, tal como se não estivesse frente a uma poderosa seleção que fizera sucesso na última Copa do Mundo.
E a certa altura de um jogo muito disputado. um jovem e pequenino ponta direita do Coritiba, Oromar (Oromar Antônio Neves), vindo do Rio Branco de Paranaguá, praticou um lance digno do Garrincha, driblando duas vezes o lateral húngaro, uma vez para cada lado, em seguida ao goleiro que ficou caído sentado, chutando para o gol vazio em lance épico que redimiu o futebol-arte brasileiro.
O jogo e o gol foram matéria de destaque em toda a imprensa nacional e até internacional, todos surpreendidos com aquele time provinciano que alcançara o que a seleção brasileira não conseguira e ainda praticando futebol-arte. Orlando Duarte, jornalista da “Gazeta Esportiva” de São Paulo teria dito: “Vim ver a Hungria e acabei vendo o Coritiba e o Oromar”.
Oromar ainda vive e mora em Paranaguá. Se nos ler, receba esta coluna como uma homenagem da geração que o viu jogar.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)