Memória Coxa-Branca
Por Felipe Rauen
Um dos maiores atacantes da história do Coritiba foi o Tião Abatiá (Sebastião Ferri). Nascido na cidade cujo nome adotou, começou no futebol no Cambará, passando para o União Bandeirantes, de onde foi para o São Paulo. No tricolor paulista atuou somente uma vez e foi contratado pelo Coritiba para formar a denominada “dupla caipira”, com Paquito, em 1971.
Além dos inúmeros e importantes gols que o Tião Abatiá fez, como, por exemplo, na vitória contra o Flamengo, no Maracanã, pelo Torneio do Povo, ou sobre o Corinthians, no Pacaembu, no campeonato brasileiro de 1971, onde perdíamos por 2 x 0 na primeira etapa e viramos, houve um lance que é tido como o “gol” mais bonito dele, embora não consumado. Assim como são as imagens do chute do meio do campo que o Pelé deu contra o gol da Tchecoslováquia e do drible sem a bola que deu no goleiro do Uruguai, que até hoje impressionam, o lance a que nos referimos ficou na memória de todos que acompanharam o jogo Coritiba 1 x Atlético-Mg 0 em 1971. Infelizmente não encontramos gravações do fato.
Mas deixemos que o jornalista Carlos Maranhão nos narre como foi.
“Tião alcança a bola, dribla Vantuir com o corpo, perde o ângulo e é obrigado a dar novo drible no zagueiro. O goleiro Renato, desesperado, sai do gol tentando segurar alguma coisa; leva dois dribles e cai sentado, enquanto Abatiá se esforça para pegar a bola que vai saindo pela linha de fundo. E volta, possesso, para a área. Mais um drible em Vantuir, outro em Renato (que cai sentado de novo), e o passe vai certeiro na cabeça de Leocádio, com o gol vazio".
Final da história: Leocádio cabeceou para fora (e depois, no vestiário, chorou desconsolado por quinze minutos), mas a jogada — a mais linda de que a torcida paranaense tem lembrança — não foi um desperdício para Tião Abatiá, que ganhou a seguinte declaração de Dario, o centroavante do Atlético Mineiro: ‘Isso que o Tião Abatiá fez não existe em futebol’.
As imagens da jogada por muito tempo foram tema de abertura de programas esportivos na TV em rede nacional.
Naquele ano ele recebeu o Troféu Bola de Prata, como o melhor centroavante do campeonato.
A fama do Abatiá era tanta que uma publicação em quadrinhos da Editora Disney o fez personagem de história infantil, com o nome de “Tião Abaterá”.
Abatiá conquistou os títulos de campeão paranaense de 1972, 1973, 1974 e 1975 (embora contratado em 1971, foi após o campeonato estadual), do Torneio do Povo de 1973 e Fita Azul quando da excursão do Coritiba pelo velho mundo em 1972.
Faleceu em 16 de agosto de 2016, deixando um grande legado no Coritiba ao ponto de ser foto da capa da publicação “Eternos Campeões”, dos Helênicos.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)