Máquina do Tempo
Por: Luiz Eduardo Buquera
As boas atuações de Marcelino Moreno, embora com números ainda discretos, têm feito a torcida do Coritiba acreditar que talvez a ausência de um autêntico camisa 10 possa ser resolvida de maneira satisfatória. Uma carência que não é exclusividade do clube do Alto da Glória, tanto que até instituições mais abastadas sofrem para encontrar um jogador com características que ao menos permitam lembrar os grandes meias do passado.
Se o futebol moderno diminuiu o espaço para formação de atletas que trabalhem a distribuição do jogo e pisem na área para finalizar, todos os clubes que contam com essa raridade em seu elenco estão à frente dos demais.
Ao longo de sua história, o Coritiba contou com muitos jogadores dignos de serem considerados o camisa 10, independentemente de utilizarem este número na camisa e de serem meias direitas, meias esquerdas, armadores ou pontas de lança. Na sequência, estão elencados onze atletas, que a partir do final da década de 60, exerceram o papel do camisa 10. Aqueles jogadores que eram a referência das equipes em que atuaram, sendo a liderança técnica no campo de jogo.
Vale ressaltar que estão dispostos em ordem cronológica e não de excelência. E que foram selecionados em uma pré-lista com aproximadamente 30 atletas. Cabe também destacar que anteriormente ao período retratado o Coritiba teve jogadores que desempenharam espetacularmente a referida função, e que foram fundamentais para construir a história vitoriosa do Verdão. Nomes como Staco, Pizzatinho, Merlin, Miltinho e Duílio não poderiam deixar de ser mencionados e aqui representam muitos outros que deixaram a sua marca e não estarão no selecionado de camisas 10.
Kruger (1966-1976) - 57 gols
Referência técnica da equipe no final dos anos 60 e início dos anos 70. Na sequência da década de 70, com a chegada de outros atletas extraordinários, continuou brilhando, mas teve que dividir o protagonismo. Chegou ao Coritiba numa época de vacas magras, quando acumulavam-se cinco anos sem títulos. Kruger, dentro de campo, e o presidente Evangelino, na administração, foram fundamentais para o clube retomar o caminho de glórias trilhado nos anos 50. Fez a famosa dupla KK com Kosilek e atuou com o excelente Walter, atleta com quem revelou ter muita afinidade em campo, parcerias que resultaram no bicampeonato estadual de 68/69. Marcou gols nas finais de 1968 e 1972, nas quais o Coritiba superou o arquirrival para ficar com o título.
Leocádio (1970-1974) - 51 gols
Um dos melhores jogadores do período mais vitorioso da história do Verdão. Em sua passagem pelo Coritiba, que se iniciou pouco depois da trágica lesão de Dirceu Kruger, foi titular absoluto. Marcou gols em seus dois primeiros atleTIBAS, o segundo deles na vitória por 1x0 no Joaquim Américo. No ano seguinte repetiu a dose, no mesmo local e com o mesmo placar. Ao todo, marcou quatro vezes contra os arquirrivais. Apontado por muitos torcedores da época como o melhor meia do clube, também teve sua importância destacada por Zé Roberto, seu contemporâneo de Coritiba e um dos maiores que envergou o manto sagrado. Esteve presente nas conquistas do tricampeonato paranaense entre 1971 e 1973, da Fita Azul em 1972 e do Torneio do Povo em 1973.
Luiz Freire (1978-1980 e 1985) - 40 gols
Luiz Freire teve grande destaque nas equipes vitoriosas do final dos anos 70 e início dos anos 80, que conquistaram o bicampeonato paranaense 1978/1979 e que chegaram às semifinais do Brasileirão em 1979/1980. Nesse período teve como companheiros de equipe outros grandes jogadores dignos da camisa 10, como Freitas, Vilson Tadei e Pedro Rocha. Luiz Freire foi artilheiro do Campeonato Paranaense de 1979, marcando um dos gols da vitória por 2x0 sobre o Colorado, que garantiu o título, diante de 53 mil torcedores. Outro fato marcante na passagem do craque com a camisa do Glorioso, foi o golaço que marcou na derrota por 4x3 para o Flamengo, nas semifinais do Brasileirão de 1980. Até hoje seu golaço é lembrado como um dos mais belos da história do Campeonato Brasileiro.
Toby (1979-1985) - 04 gols
Curiosamente, Toby fez sua estreia e sua despedida na equipe profissional do Coritiba, sob o comando do mestre Ênio Andrade. Ambos conquistaram o Campeonato Paranaense de 1979 e o Campeonato Brasileiro de 1985. Após sua estreia em 1979, Toby só voltou a ter oportunidades na equipe profissional em 1981, mas só conseguiu se firmar como titular durante a disputa do Campeonato Brasileiro de 1984. Foi titular absoluto no Campeonato Paranaense de 1984 e no Campeonato Brasileiro de 1985. Na maior parte de sua passagem pelo Verdão atuou como volante, mas obteve maior sucesso atuando mais adiantado, com um meia, no Campeonato Brasileiro de 1985. Com a camisa 10, pode mostrar mais algumas qualidades além da forte marcação e dos desarmes precisos. Mostrou-se exímio driblador, veloz e garçom. Junto com Lela infernizava as defesas adversárias, com a vantagem de saber recompor a marcação no meio de campo com a eficiência de um volante. Na finalíssima em 1985 fez um primeiro tempo primoroso, sendo parado somente na base da violência. Numa das faltas sofridas por Toby, Índio marcou o golaço que abriria o caminho para o título. Em 1986, Toby foi reforçar o Bangú para a disputa da Taça Libertadores da América, certamente por uma boa quantia para convencer o presidente Evangelino, que na sequência trouxe o maestro Tostão.
Tostão (1986-1992) - 47 gols
O maestro Tostão já chegou ao Coritiba com o cartaz de melhor jogador cruzeirense em anos anteriores. Era um meia clássico, de toques e lançamentos precisos, excelente nas cobranças de falta e artilheiro, marcando muitos gols, inclusive de cabeça. Conquistou a artilharia do Campeonato Mineiro numa época em que Reinaldo e Éder defendiam o rival e figuravam na Seleção Brasileira.
Para trazê-lo ao Coxa, o presidente Evangelino teve que colocar dois campeões brasileiros no negócio. Os pontas Édson e Gil. Tostão demorou um pouco a se tornar ídolo da torcida Alviverde, pois sofreu muito com treinadores que insistiam em desperdiça-lo como centroavante e ponta. Embora tenha sido importante no título paranaense de 1986 e tido algumas atuações muito boas em 1987, só conseguiu demonstrar todo o seu potencial a partir do Campeonato Brasileiro de 1988, com a chegada do centroavante Chicão, com quem formou uma dupla inesquecível e sob o comando do treinador Valdir Espinosa. O título paranaense de 1989, com o espetacular time comandado por Edu Antunes, consolidou o craque como principal referência da equipe. Naquele ano aterrorizou os poodles, marcando cinco vezes nos clássicos contra o arquirrival. Em 1990 e 1991, Tostão continuou atuando em alto nível, até sair do clube em 1992, quando as contusões musculares e a condição física não permitiam mais que atuasse com a regularidade de outrora.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)