Sociedade Anônima do Futebol
A próxima quarta-feira, dia 31 de maio de 2023, será uma data histórica para o Coritiba Football Club, ocasião em que será realizada a votação dos sócios Coxa-Brancas sobre a venda de 90% das ações de sua sociedade anônima do futebol – SAF para o Fundo Treecorp.
Primeiro é importante entender o que é uma SAF. A Sociedade Anônima do Futebol, permite que equipes de futebol se tornem clube-empresa, com fins lucrativos, tendo como principal ferramenta o profissionalismo.
É uma lei regulamentada que permite, ao transformar o time em uma empresa privada, que a SAF entre no mercado financeiro para captar recursos, o que é permitido apenas a empresas de médio e grande porte. Desta forma a sociedade anônima tem a maleabilidade que o clube não tem para negociar dívidas e transformar sua situação financeira em algo mais viável e possível de se controlar.
Ao transformar o time em uma SAF, o objetivo dos gestores do clube é conseguir mais lucro. Do outro lado do acordo, na parte dos vendedores da equipe, é esperado que a nova administração saiba gerenciá-lo melhor, evitando contratos e acordos financeiramente prejudiciais, coisa que na história do Coritiba nunca foi preocupação.
Outras decisões importantes, como uniforme, escudo, hino, cores e qualquer questão que diga respeito à história ou patrimônio, só são feitas com a aprovação da associação que criou o clube. Cabe aos novos gestores, a responsabilidade exclusivamente financeira, cuidando de contratações, acordos, salários e a quitação das possíveis dívidas que o clube tenha.
A expectativa é que finalmente o futebol do Coritiba Foot Ball Club se torne mais profissional em mãos mais responsáveis e transparentes, não só com funcionários/ jogadores e colaboradores, mas com toda a empresa e torcida, para melhorar o que for necessário.
Aparentemente, os times que adotarem esse modelo, tem mais a ganhar do que a perder, tendo em vista que é de grande ajuda financeira e não interfere na atual equipe de gestão do clube, apenas acrescenta investidores e torna o esporte mais profissional.
Editoria COXAnautas
Através da constituição e venda de sua SAF, será definitivamente rompido o modelo falido que há décadas vem provando que não será o meio pela qual o Coritiba voltará a ser competitivo no cenário nacional, num futebol que demanda cada vez mais investimentos, recursos financeiros, gestão, profissionalismo e competência.
A nova era do futebol não tem mais espaço para clubes comandados por torcedores, que por mais bem intencionados que sejam, são dirigentes amadores, não remunerados, e sujeitos a política interna. Política que, tanto prejudicou o Coritiba nas últimas décadas, impedindo planejamentos de longo prazo, e criando divergências e intrigas a cada gestão que assumia o clube.
O grau de governança desta nova era do futebol não admite mais amadorismo na direção de um clube, negociações escusas, contratações obscuras de jogadores, e funcionários vinculados politicamente aos gestores do clube, que por muitas vezes não possuem o conhecimento necessário para desenvolverem às funções que foram contratados.
A partir da venda da SAF, o fator que deverá nortear o clube será a eficiência, afinal somente através dela virá a rentabilidade, motivo único para um fundo querer adquirir um clube com mais de R$ 230 milhões de dívida.
E a intenção de compra só veio porque o Coritiba é um clube de história, tradição, instalado numa das melhores cidades para se viver no país, e principalmente, porque ainda tem uma massa de torcedores apaixonada, que se constitui no público consumidor de seu produto. Torcida esta que carregou o clube nas costas e impediu que o pior acontecesse nos últimos 10 anos.
Se no futebol, a atual diretoria fracassou totalmente assim como as gestões anteriores, ao menos no âmbito administrativo foi possível criar um ambiente minimamente viável para que a venda da SAF pudesse acontecer, com destaque para o tratamento da dívida, que superava os R$ 300 milhões, sacramentado através da Recuperação Judicial – RJ.
Mas será que a oferta da Treecorp atende os anseios da nação Coxa Branca?
Fatos e comparações:
Até o momento tivemos quatro grandes operações envolvendo SAF no país: Cruzeiro, Botafogo, Vasco, e Bahia.
A SAF do Cruzeiro, pioneira no Brasil, teve 90% de suas ações adquiridas pelo ex-jogador Ronaldo pela quantia de R$ 400 milhões, sendo que o aporte direto de investimentos ficou limitado inicialmente a apenas R$ 50 milhões. Os demais investimentos ficaram condicionados a receitas “incrementais”.
A SAF do Botafogo, que teve 90% de suas ações adquiridas pelo empresário John Textor, foi vendida pelos mesmos R$ 400 milhões do Cruzeiro, no entanto o cronograma de investimentos indica R$ 50 milhões de imediato, R$ 100 milhões em 12 meses, outros R$ 100 milhões em 24 meses, e por fim outra parcela de R$ 100 milhões ao final de 36 meses.
A SAF do Vasco foi vendida ao grupo 777 Partners por R$ 700 milhões (70% das ações), sendo R$ 70 milhões antecipados ao contrato para evitar a insolvência do clube e R$ 120 milhões aportados em 2022 para formar o plantel da atual temporada. Ainda estão previstos outros R$ 190 milhões para este ano.
Já o modelo utilizado pelo Bahia, na venda de sua SAF para o grupo City, é o que mais se aproxima dos números da proposta da Treecorp. O Bahia vendeu 90% de suas ações por R$ 1 Bilhão, os quais serão aportados no clube num prazo de 15 anos. Deste investimento R$ 500 milhões serão destinados para compra de atletas, R$ 300 milhões para pagamento de dívidas e R$ 200 milhões para infraestrutura do clube.
Na proposta da Treecorp, o Coritiba repassará 90% das ações de sua SAF por R$ 1,3 Bilhão a serem investidos no clube nos próximos 10 anos. Destes, R$ 270 milhões serão destinados a pagar dívidas, R$ 100 milhões para construção de um novo CT, R$ 500 milhões para modernização do Couto Pereira, e R$ 450 milhões para investimentos diretos no futebol.
O economista Cesar Grafietti, em entrevista ao portal SuperEsportes, avaliou que dentre as SAF`s vendidas a do Vasco foi a mais vantajosa, porém fez ressalvas quanto ao possível sucesso delas:
"Não é claro, mas aparentemente sim, considerando as informações disponíveis. Digo isso porque o Vasco permaneceu com percentual maior da SAF, repassou integralmente as dívidas e há um compromisso maior de aportes por parte do novo acionista. Ao mesmo tempo, parece-me que tanto Ronaldo quanto Textor (dono de 90% da SAF do Botafogo) têm maior conhecimento do mercado do futebol. Não é apenas dinheiro que faz a diferença num momento de transição. É preciso garantir qualidade nas práticas e nas pessoas que tocarão o projeto", afirmou.
Ele ainda opinou sobre os valores praticados, em especial as críticas proferidas pelo gestor do cap quanto os montantes praticados:
"O presidente Petraglia está defendendo seu negócio, fazendo as vezes do vendedor. Os três clubes de grande expressão vendidos recentemente custaram caro. Para dizer isso, precisamos de alguma base técnica. Por exemplo, um mercado desenvolvido como o europeu negocia clubes em condições bem mais baratas do que vimos no Brasil, em mercados maduros, estruturados, com upsides claros, regras de proteção ao investimento (fair play financeiro). Além disso, os clubes negociados possuem enormes riscos e desafios, dívidas imensas, são pioneiros num mercado que desconhece a relação com donos formais. Botafogo, Cruzeiro e Vasco custaram caro".
Em relação a afirmação acima do referido economista podemos citar as vendas do Fulham (ING) por 150 milhões de dólares (R$ 830 Milhões), do Valencia (ESP) por R$ 94 milhões de euros (600 Milhões), Wolverhampton por 45 milhões de libras (R$ 339 milhões), Leicester por 40 milhões de libras (R$ 300 milhões), Newcastle (ING) por 353 milhões de libras (R$ 2,6 Bilhões), Inter (ITA) por 270 Milhões de euros (R$ 1,7 Bilhões), Manchester City por 210 milhões de libras (R$ 1,6 Bilhões). (fonte: lancenet)
Voltando as comparações das SAF`s já vendidas, denota-se que os valores praticados têm sido proporcionais às dívidas e representatividade dos clubes.
Observa-se que dentro dos acordos firmados em todos os casos, as associações dos clubes ficaram com a parte menor das ações, porém com direitos que preservam sua identidade e tradição.
Um dos destaques da proposta da Treecorp em relação aos demais SAF`s, é que há uma maior previsão de investimentos na estrutura do clube, em especial no estádio e no CT.
Por fim, é preciso ressaltar que a SAF não é uma garantia plena de que o Coritiba irá subir de patamar e retomar os caminhos vitoriosos de outros tempos, afinal o futebol é um esporte que não permite fazer tal afirmação ou previsão. Mas em dúvida, é uma oportunidade de mudar os rumos do Coritiba que há anos vem colecionando fracassos e decepções, em geral por gestões que parecem desconhecer o business do clube.
É preciso deixar claro que sim, ao votar a favor da venda da SAF à Treecorp, o clube delegará totalmente a gestão administrativa e esportiva à um terceiro, sem poder fazer grandes interferências, ficando apenas com a atribuição de fiscalizar a execução dos termos do contrato.
Porém, talvez esse seja justamente o que o Coritiba esteja precisando nesse momento. Gestão de resultados, eficiência financeira e administrativa, profissionais capacitados que não sejam apadrinhados, e principalmente gestores de mercado que saibam o que estão fazendo e não sejam contaminados pela política interna do clube.
Apesar do contrato a ser firmado com a Treecorp não possuir uma cláusula específica de metas e resultados, é nítido que bons resultados conquistados dentro de campo interessam diretamente aos investidores, pois eles levarão a diversos fatores positivos ao fundo de investimento, como a marca e jogadores mais valorizados, além dos torcedores se motivarem a consumir ainda mais os produtos do Coritiba Foot Ball Club.
Por tudo o que foi exposto acima, não resta dúvida que a venda da Sociedade Anônima do Futebol – SAF do Coritiba para o Fundo de Investimentos Treecorp é o caminho que poderá devolver a competitividade tão esperada, evitando que o clube continue agonizando em uma tentativa desesperada de recuperar o seu espaço no futebol brasileiro.
Observação: A votação dos sócios na próxima quarta-feira, 31/05, será apenas um ato simbólico, uma vez que a aprovação para a venda da SAF do Coritiba foi realizada na votação de 23/12/2021, quando 95,47% dos sócios votantes autorizou o Conselho Administrativo do Coritiba a constituir a Sociedade Anônima do Futebol – SAF.
Opinião COXAnautas
Internamente, a equipe do COXAnautas debateu sobre a venda da Sociedade Anônima do Futebol para o Fundo de Investimentos Treecorp.
Pela descrença em acreditar que alguém da comunidade Coxa-Branca possa assumir o clube e mudar o rumo da história neste momento, os integrantes do site (editoria, redação e participantes das lives) acreditam que o único caminho neste momento capaz de fazer o Coritiba voltar a ser grande é ser gerido por profissionais gabaritados que, neste momento, seriam contratados através da Treecorp. Por tudo, o que aconteceu nos últimos anos, pela ineficiência diretiva em conduzir o futebol do clube, cada vez mais comprovado pelas péssimas campanhas nos últimos anos, é que o Coritiba precisa passar por uma transformação radical, fato fundamental para a sobrevivência do clube.
Apesar de não termos a certeza de que o Coritiba mudará da água para o vinho com a venda da sua SAF para a TreeCorp, a possibilidade de sucesso é muito maior do que continuar a ser administrado neste modelo arcaico que tanto prejuízo tem causado à Instituição.
Por todo exposto acima, o COXAnautas é favorável à venda da Sociedade Anônima do Futebol do Coritiba, desejando que o Fundo de Investimentos Treecorp tenha êxito e sucesso no comando do clube.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)