Máquina do Tempo
Por: Luiz Eduardo Buquera
A escolha da partida a ser recordada no Máquina do Tempo referente à próxima rodada não foi ao acaso. Em 1999, ao enfrentar o Botafogo no Couto Pereira, o Coritiba precisava muito de uma vitória para barrar a crise instalada no clube após uma série de maus resultados que culminou com a demissão do técnico Abel Braga. Abelão não resistiu, mesmo após ter sido fundamental para que o clube conquistasse o estadual daquele ano e saísse da fila que já durava quase dez anos.
Além de espaço de recordação, também façamos do Máquina do Tempo um espaço de reflexão. Do ponto de vista imediato, aquela demissão aparentemente trouxe resultado, pois o Coritiba se recuperou na competição. Mas, com um olhar mais abrangente, tal atitude só contribuiu para fortalecer a cultura de responsabilização excessiva dos treinadores, da irresponsabilidade diretiva e da passada de mão na cabeça de jogadores mimados e irresponsáveis. Tal cultura fez o Coritiba e outras equipes do mesmo porte pagarem caro. E parece que o maior contingente da torcida não só embarca nesse tipo de atitude furada, como pressiona nesse sentido. Será que Abel Braga não era capacitado suficientemente para comandar o Verdão?
Enxergo muita semelhança com o que ocorre atualmente, quando a cada resultado negativo em jornadas nas quais os "atletas" demonstram uma apatia vergonhosa, o treinador seja o maior responsabilizado. Estou cansado de ver a mesma história se repetindo. Vocês não?
Feita a reflexão, aberta às mais variadas opiniões respeitosas, vamos à partida de 25 de setembro de 1999. O Coritiba contava com um bom time, que, unido em torno do mesmo propósito, podia fazer frente a qualquer equipe. O Botafogo, apesar de contar com bons valores, fazia péssima campanha, e acabou rebaixado ao final da competição. Tal situação foi revertida no tapetão, quando claramente tirou-se proveito da brecha conferida pela escalação de um atleta do São Paulo que tinha irregularidades em seu registro de idade (Sandro Hiroshi) para beneficiar o Botafogo. Ao invés de punir apenas o infrator (São Paulo), resolveram conferir os três pontos da partida ao clube carioca, que havia perdido por 6x1. Tal situação levou à malfadada Copa João Havelange, cuja realização serviu, entre outras coisas, para fazer o Fluminense saltar pela porta dos fundos da Série B para a Série A.
Na partida vencida pelo Verdão por 3x2, brilharam as estrelas de Cléber Arado e Sinval, que marcaram os gols da vitória sobre o time da estrela solitária. Cléber, que certamente foi o maior destaque do clube entre o final de 1997 e a metade do ano 2000, marcou o gol inaugural aos 11 minutos e não comemorou, demonstrando que havia algo de errado nos intramuros do Alto da Glória. O Botafogo conseguiu o empate com Clóvis aos 32 minutos, dando números finais à primeira etapa.
Na segunda etapa, Sinval, que viera do banco, marcou duas vezes em cobranças de penalidade. Na época, o Coritiba contava com dois exímios cobradores, justamente os artilheiros da partida. O atacante fez prevalecer a lei ex, o que já havia ocorrido no Campeonato Brasileiro do ano anterior. O zagueiro Sandro ainda descontaria para os cariocas.
Após esta vitória, o Coritiba se recuperou e só voltou a perder na última rodada, contra o Corinthians no Pacaembu, clube que seria o campeão naquele ano. O Verdão manteve as chances de classificação para a fase final da competição até a penúltima rodada do campeonato, quando empatou por 1x1 com o Juventude no Couto Pereira.
Coritiba 3x2 Botafogo - 25 de setembro de 1999
Estádio Major Antônio Couto Pereira
Coritiba: Gilberto, Reginaldo Araújo, Leonardo, Flávio e Dutra; Ataliba, Mozart (Betinho), Darci e João Santos (Reginaldo Nascimento); Luiz Carlos Matos e Cléber (Sinval). Técnico: Márcio Araújo.
Botafogo: Wagner, Russo, Jorge Luiz, Sandro e Clóvis; Marcelinho Paulista, Reidner, Rodrigo Beckham (Felipe Tigrão) e Sérgio Manoel (Leandro Augusto); Valdir Bigode e Zé Carlos (Darci). Técnico: Antônio Clemente.
Gols: Cléber (CFC) 11/1, Clóvis (BOT) 32/1, Sinval (CFC) 26/2 e 36/2 e Sandro (BOT) 37/2.
Público pagante: 12.678 pessoas.
Árbitro: Antônio Pereira da Silva.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)