MEMÓRIA
Os negros no Paraná...
Por Vinícius Coelho
... E no Coritiba. Com as recentes manifestações racistas na Europa e agora até no Brasil, volta-se a abordar o tema do negro em nosso futebol, que possui variantes de análise, com a principal dando uma explicação mais prática pela ausência, por ser Curitiba, uma cidade fria e, ainda melhor explicado, uma cidade onde as colonizações alemã, polonesa e ucraniana foram dominantes. O que chama a atenção, é que sempre que tal tema é focalizado, o Coritiba entra em cena como "o clube que não permitia pretos em seu time". Burrice. Quem não permitia negros em seu time sempre foi o Atlético. Soube que recentemente saiu em um livro sobre o futebol do Paraná, e que na década de 20 o Atlético tinha um negro, Urbino. Tinha o Urbino, mas ele não era negro, era moreno. Assim como o Coritiba, que tinha o Cuca, o Lival, o Laudelino, todos das décadas de 20 e 30.
Já contei várias vezes isso, que levado pelo desejo de pesquisa em torno do assunto, conversei longamente por duas vezes com o presidente Couto Pereira que além dos problemas citados ali em cima, a existência de negros em Curitiba era mínima. Como o Coritiba era um clube da classe média e com o estigma de ter sido fundado por alemães, havia um constrangimento natural dos negros irem tentar a sorte no clube. E foi o próprio Couto Pereira que simplesmente convidou um jogador do Palestra, negro, para jogar em 1932, disputando o campeonato de 31, pelo time coritibano. Era Moacir Gonçalves, que acumulava as funções de jogador e técnico, tendo exercido também o treinamento do Ferroviário, Bloco Morguenau e Britânia com o correr dos anos. Em 1941, Bananeiro, um dos irmãos Ferreira, de presença tradicional no Ferroviário, foi para o Coritiba. No ano seguinte, seu irmão, Janguinho, também foi. Na diretoria coritibana, por volta de 37,o capitão Anibal, negro, era figura de destaque. Chegou a general. Em 46, apareceu no Alto da Glória o Enock (Biguazinho).
O Atlético apareceu em 1964, com dois negros no time juvenil: Mimiu e Amauri. O segundo chegou a ser destaque no time principal. Em 67, Antonio Irineu, veio lá do Rio e um ano depois Luciano e Jurandir, e um pouco mais tarde, Charrão. Foi quando o Atlético liberou as amarras que impedia a entrada de negros em seu time. Há portanto, uma grande diferença, entre a época que o Coritiba teve negros em seu time e o seu rival.
A incidência maior de negros no Ferroviário e no Britânia, era porque os dois clubes tinham uma origem mais humilde, sem grandes figuras da sociedade curitibana, o que não causava aos jogadores constrangimento algum para que eles os integrassem, ainda mais que não havia o compromisso social nas duas agremiações. O uso constante do nome do Coritiba, como um clube que não admitia negros, é apenas uma necessidade de procurar sempre denegrir a imagem de um clube que sempre foi o maior do Paraná em todos os setores. Só que esses críticos, deveriam pelo menos procurar pesquisar melhor, isentos, para inclusive ganharem o respeito necessário à profissão.
Vinícius Coelho
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)