Memória Coxa-Branca
Por: Kerwin Kuhlemann
No futebol de hoje temos visto cada vez menos jogadores permanecerem num mesmo clube por várias temporadas seguidas, ainda mais nas posições de linha. Na história do Coritiba temos um exemplo raro de um atleta que permaneceu por nada menos que nove temporadas consecutivas. Trata-se do lateral Marcio, também conhecido como Marcio Batatinha.
Ao final da década de 80, o Coritiba sofria com a falta de laterais dentro do elenco em virtude da ausência dos campeões brasileiros Dida e André. O primeiro havia sido vendido e o segundo sofria fisicamente após uma lesão muito séria e de difícil recuperação. Diante disso o Coritiba resolveu promover o lateral Marcio das categorias de base, que logo nos primeiros treinos com o time profissional ganhou do ídolo Lela o apelido de “batatinha”.
Nascido na Lapa (PR) em 06/05/1967, Marcio era lateral direito de origem, mas por ser ambidestro podia ser improvisado sempre que necessário na lateral esquerda. Estreou no Coritiba em 1987 em uma partida pelo Campeonato Paranaense contra o Matsubara, time do norte pioneiro do Estado. Apesar de mostrar um bom rendimento na sua primeira temporada no Coritiba, quando disputou 37 partidas pelo clube (o recorde de sua carreira) o lateral nunca chegou a ser um jogador intocável, sempre tendo que disputar posição com os reforços que o clube contratava.
Apesar disso, Marcio Batatinha seguia figurando nos elencos Coxa Brancas, ano após ano, sendo sempre acionado pelos treinadores que passaram pelo clube. No total, Batatinha foi jogador do clube por quase uma década, disputando nove temporadas seguidas entre os anos de 1987 e 1995. Durante este período disputou a posição com vários companheiros de posição como Eraldo, Ditinho, Polaco, Cattani, China, Jorge Luis, Valmir, Balu e Marcos Teixeira, na maioria das vezes prevalecendo sobre os mesmos.
Marcio Batatinha viveu momentos de glórias e de crises no clube. Teve papel importante no timaço do Coritiba de 1989, Campeão Paranaense e que só não foi mais além devido a canetada da CBF. Também participou ativamente no Campeonato Brasileiro da série B em 1991, quando o Coxa só não conquistou o acesso devido a um assalto em Campinas promovido por José Roberto Wright. Depois disso, as temporadas em que Batatinha mais disputou partidas foram as de 1992 e 1995, coincidentemente aquelas que levaram o clube a subir para a primeira divisão do futebol brasileiro.
O Coritiba foi tão representativo na carreira do jogador que quase 89% das partidas disputadas por ele como atleta profissional foram vestindo o sagrado manto alviverde. Ao todo Marcio disputou 215 jogos, marcando 2 gols. Após a saída do clube em 1995, o jogador atuou ainda pelo Maringá, Malutron e Rio Branco de Paranaguá, onde encerrou sua carreira em 2001. Em 2018, o jogador recebeu uma justa homenagem do clube no Couto Pereira, sendo ovacionado pela torcida alviverde, que reconhece a importância do jogador que ajudou o clube a superar um período muito difícil de sua história.
Um lateral direito regular
O Márcio Batatinha foi um dos laterais que mais sofreu com as vaias da torcida Coxa-Branca, fato comum para aqueles que correm pelos lados do campo no Alto da Glória, principalmente para aqueles formados dentro de casa.
Admito que um dos jogadores que mais peguei no pé em minha vida de torcedor Coxa-Branca foi o Márcio Batatinha. O lateral não tinha vida fácil quando os jogos eram no Couto. Bastava um erro de passe ou cruzamento para que os impropérios saíssem das bocas dos torcedores a todo vapor.
Hoje, anos depois, admito que as minhas críticas, na época um adolescente em formação, eram exageradas. Márcio era um lateral regular, daqueles nota 6, que faziam o seu trabalho e não comprometia, tanto na direita, como na esquerda. E sinceramente, olhando o nível técnico do futebol atual, ele muito provavelmente seria titular do time com um pé nas costas, o que torna as minhas críticas à época um pouco exageradas.
Ricardo Honório
Editor-Chefe do COXAnautas
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)