Bola de Couro
Depois de amanhã, 12 de outubro, feriado nacional também por causa dessa comemoração, o Coritiba completará 108 anos de vida e história. Escrevo antes do jogo contra o Corinthians para não deixar que o resultado – que espero seja positivo – influa no meu ânimo.
O momento não é bom para o clube. O risco de um novo rebaixamento, um fantasma que nos assusta nos últimos cinco anos, se se concretizar será catastrófico. Mas é festa de aniversário, amigos! Mesmo que o dia da comemoração nos encontre muito mal colocados na tabela, mesmo que tenhamos insatisfações em relação ao time e a sua administração, a comemoração de nossa história deve superar, ainda que por alguns momentos, os sentimentos negativos em face da ocasião.
Sabemos que já passamos por maus momentos em nossa história, mas sempre deles soubemos nos reerguer. Sofremos um injusto rebaixamento por força de um “canetaço” e três por deficiências técnicas, o último deles levando o clube à execração pela má conduta de alguns torcedores, e que a mídia tentou estender ao clube e sua torcida como um todo, mas nos reerguemos. Temos dívidas irresponsavelmente acumuladas por gestões que não se conduziram bem nesse aspecto, as quais certamente concorrem para que não cresçamos.
Mas e daí? Isso vai impedir comemorar a nossa história? Alguns tropeços e o momento atual não podem manchar a longa caminhada desenvolvida e as várias conquistas alcançadas nesses 108 anos de vida. Vamos esquecer os maus momentos e lembrar dos bons. É assim também que procuramos nos comportar em nossas vidas. Quando um amigo ou familiar comemora aniversário deixamos de lado velhas rusgas para lembrar dos bons momentos. Tratemos de comemorar o aniversário daquele que faz parte de nossas vidas, relembrando seus bons momentos e glórias.
Pois então vamos nos orgulhar da história do clube que, em 102 (cento e dois) campeonatos estaduais disputados, obteve 38 (trinta e oito) títulos, uma média superior a 1/3 do total, ou mais do que um título a cada 3 (três) anos. É o único que conseguiu um hexacampeonato e o que por mais vezes o foi de modo invicto. Os dois rivais da capital, somados, não alcançam o nosso número de títulos estaduais.
Vamos saudar o primeiro clube do futebol brasileiro a adotar as cores alviverdes, associando-as às do seu Estado. E o clube que tem nome único no Brasil e não copiou o de outro Estado e nem as suas cores.
Saúdo o único clube de Curitiba que construiu seu estádio com recursos próprios, oriundos dos seus associados e torcedores, nunca recebendo um saco de cimento pago com dinheiro público, enquanto o principal rival o faz de modo clamoroso e o outro utiliza estádio construído por estatal ferroviária. Nosso estádio está inapropriado para os tempos atuais e anúncios de reforma ou reconstrução têm sido feitos, esperando a torcida que não sejam movimentos diversionistas e que realmente algo de concreto ocorra dentro das forças do clube.
Regozijo-me com o primeiro clube paranaense a ser campeão brasileiro, decidindo o título em partida única, fora de casa, com 90% da torcida presente no estádio torcendo contra os bravos 10% de coritibanos que foram ao Rio de Janeiro com esperanças e voltaram com a glória.
Vibro com a lembrança do meu time campeão do Torneio do Povo, campeonato nacional de expressão na época e para o qual eram convocados somente os clubes com maior torcida dos maiores estados, daí a nossa participação.
Tenho convencimento de que somos a maior torcida dentre os times do Paraná, pois em quase todos os anos temos a maior média de público do futebol paranaense, nos campeonatos estaduais e nos nacionais. Se não é a maior nos últimos tempos, certamente é por causa da desilusão com o time. Saúdo a torcida, em especial aqueles que, associados ou não, vão aos jogos com camisas e bandeiras do clube.
É pouco?
Não nos esqueçamos de que o Coritiba é o maior vencedor de atleTIBAS, com folga. E que é também o maior vencedor de paraTIBAS, assim como era perante o clube gênese daquele, o Ferroviário.
Foi o primeiro clube paranaense a ter em seus quadros um atleta negro, Moacir, em 1931, em tempos nos quais o racismo infelizmente imperava (a abolição da escravatura não tinha completado 50 anos e seus efeitos ainda se faziam presentes), enquanto o rival, por muito tempo só integrado pela aristocracia (lembram que o seu símbolo era um torcedor de fraque, cartola e monóculo?) e por políticos (estes parece que até hoje), só teve o primeiro afrodescendente vestindo a sua camisa em 1962 (Amauri), quando já haviam decorrido mais de sete décadas da lei áurea e 5 anos do começo da luta de Martin Lhuter King nos EUA em defesa da não segregação racial.
Enfim, amigos, indiscutivelmente o Coritiba é o maior clube de futebol do Paraná e é o clube paranaense com maior expressão perante o Brasil. É, mas infelizmente não está, não há como esconder isso. E se uma revolução ou refundação do clube não acontecer logo, a história continuará sendo apenas remota, fixada em glórias do passado que cada vez fica mais distante, infelizmente.
Queremos um dia avançar na cotação dentre os melhores do Brasil. Queremos outro(s) título(s) nacional(is) em campeonatos de elite. Queremos, por que não, um campeonato continental. Nada é impossível para quem mira grandes alvos e se dedica com competência a atingi-los. Não me lembro de quem é a frase, mas é apropriada: “Se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade”.
Parabéns, Coritiba. Parabéns dirigentes, atletas e demais profissionais que um dia fizeram a bela história do clube. Parabéns principalmente aos torcedores, a razão e fundamento do clube!
PS. Amanhã será outro dia. Quem sabe os nossos atletas mostram compromisso e futebol e nos presenteiam com uma vitória?
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