Bola de Couro
Ontem, assistindo ao jogo entre o Athletico e o Boca Júniors, o que fiz tanto por curiosidade como para tentar “secar” o nosso rival, a certa altura da partida bateu-me um sentimento de depressão.
Senti naquele momento o que aos poucos vem me amargurando e o que certamente grande parte da torcida vem sentindo há algum tempo. A verdade é que não somos mais o maior clube de futebol do Paraná. Fomos no século passado, mas este século está sendo do rival. E pior, nem nos mantivemos no mesmo lugar, mas estamos caindo aos poucos. Dói dizer isso, mas os fatos não permitem afirmar de modo diferente.
Sei que talvez alguns atirarão pedras em mim, mas não podemos mais nos manter passivos como se as nossas glórias do passado cada vez mais remoto ainda estivessem presentes. A nossa história de quase 110 anos é inapagável, temos que cultuá-la e honrá-la, mas, gostem ou não alguns, a verdade é que aos poucos fomos sendo ultrapassados pelo rival e no atual quadro de distância qualquer revolução, refundação ou reestruturação do Coritiba só poderá nos igualar a ele depois de alguns – talvez muitos - anos de ações bem diferentes das que de modo conservador ou às vezes irresponsável têm sido praticadas.
Temos que reconstruir ou refundar o nosso clube sem medo de ousar, mudando o modo de administrar e sem ações deletérias entre os homens que podem fazer algo de positivo. Uma grande concertação deveria acontecer entre tantos nomes capazes de grandes coritibanos, de modo a fazer essa revolução ou refundação. A nos mantermos nos passos que temos dado nos últimos anos, a cada dia a distância que nos separa do rival ficará maior e a gangorra nos manterá na parte de baixo.
O estatuto tem que ser modernizado para o clube ser gerido de modo eficaz, sem grandes e inoperantes conselhos, sem adoção de políticas de gestão, mas sim de clube – refiro-me a manter estratégias bem-sucedidas independente da composição da direção que se suceder – e o comando do clube não pode ser alcançado com a participação decisiva, nas eleições, das torcidas organizadas que deveriam quando muito se limitar às arquibancadas. Não se trata de não deixar democrática a eleição, claro que todos os associados podem e devem votar, mas se trata de afastar que as torcidas organizadas atuem como instituição, fechando questão em torno de determinado candidato, o que ocorreu nas duas últimas eleições e o custo disso estamos pagando.
Eu temo muito que com a minha idade não consiga viver o suficiente para ver o Coritiba novamente grande e respeitado. Ser grande e respeitado não se limita a voltar para a primeira divisão e nela permanecer ou ganhar a maioria das desvalorizadas competições estaduais. Significa deixar de ser coadjuvante, quando não mero figurante dos grandes campeonatos, e ter protagonismo. Buscar títulos, se impor como instituição sem passar por depreciação como vimos quando da contratação da TV, sair das fronteiras do Estado, renovar ou reconstruir o estádio (Em 2015 se falou nisso, mas na ocasião muitos se opuseram dizendo que era mais importante ter um bom time. Pois não temos nem um e nem outro), enfim, administrar o clube com um modo visionário/responsável.
Se isso não acontecer logo, se as ações no Coritiba continuarem limitadas ao pensamento pequeno desse grupo de jovens que assumiu a direção e que agem como os jurássicos que já passaram por ela, se parte da torcida continuar se iludir e se satisfazer com o passado ou com a ideia de que só voltar à primeira divisão será uma redenção suficiente, se nomes de peso não se articularem em uma concertação em benefício do Coritiba, e só do Coritiba, é triste dizer, mas continuaremos sendo o segundo clube de futebol do Paraná.
Fico triste ao escrever essas linhas, mas é o desabafo de alguém que assistiu ao primeiro jogo do Coritiba em 1955 e que se recorda da escalação de 1957, que quando pré-adolescente por não ter dinheiro uma vez “furou” e não pagou ingresso para ver um jogo, que frequentou todos os cantos do estádio, que chegou a viajar doze horas de carro para ver um jogo, que se mantém associado ainda que raras vezes possa ir ao estádio, e que mesmo fisicamente distante cultua e defende o clube. Não imaginava que um dia estaria vendo o Coritiba tão apequenado e sem perspectivas.
Perdoem o tom de depressão deste texto, Claro que jamais abandonarei o meu amor pelo Coritiba pois, como me disse ontem o meu filho Alexandre ao me ver deprimido, o que importa é o amor envolvido e a paixão que existe e não diminui mesmo nos piores momentos.
A opinião dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
Cada colunista tem sua liberdade de expressão garantida e assinou um termo de uso desse espaço.
Para que a minha glória a ti cante louvores, e não se cale. Senhor, meu Deus, eu te louvarei para sempre. (Salmos 30:12)