Bola de Couro
Não há mais o que dizer sobre o desempenho do Coritiba, a não ser repetir e repetir. Então volto a um tema que ocupou este e outros espaços nos últimos meses de 2018.
Lembro que em novembro daquele ano 86 conselheiros do Coritiba protocolaram no Conselho Deliberativo um pedido de convocação de assembleia geral extraordinária para deliberar sobre o possível afastamento da direção que fracassava.
Antes, eu provocara o assunto aqui neste espaço. Veja aqui e aqui.
Na época houve quem dissesse que era o primeiro ano da gestão e que com o tempo os dirigentes aprenderiam a administrar, argumento esse raso e risível.
Falou-se também que a tentativa seria um “golpe”, como se o pedido de afastamento de dirigente em qualquer órgão associativo, empresarial ou público não fosse democrático desde que para correção de erros graves e com procedimento em obediência às regras estatutárias ou legais.
Sucederam-se então dias tumultuados, nos quais o presidente afirmou que lutaria em juízo para se manter no cargo, se necessário, até que no dia 26 do mesmo mês o Conselho Deliberativo, pelo voto da maioria de 81 membros dentre 160 comparecentes, deliberou pelo arquivamento do pedido.
Na ocasião, foi fator fundamental para o arquivamento a manifestação do ex-presidente Vilson Ribeiro de Andrade, o qual sustentou, mesmo que tenha sido opositor do presidente Samir nas eleições, que o afastamento da direção poderia gerar crises e danos à imagem do Coritiba e o clube deveria ser pacificado.
Em princípio conformei-me com o resultado, por razoáveis aqueles argumentos, mas principalmente por supor que o fato serviria como um “pito” na administração do Coritiba para que dali em diante corrigisse os rumos e aceitasse a informal colaboração de outros para reerguer o clube que estava afundando.
Mas o que se viu e vê é que o ocorrido de nada serviu para alterar os maus rumos desses jovens que assumiram o Coritiba tendo como ponto fundamental no currículo a afirmação de que estiveram presentes nas arquibancadas em todos os jogos das últimas temporadas. Sei que são honestos, nada jamais se ouviu em sentido contrário, mas se isso é muito nos tempos atuais, é muito pouco se não houver boa gestão concomitante, e esta está sendo um desastre pela incompetência na condução do futebol, atividade meio e fim do Coritiba. Assim como costumamos dizer que um time ruim só pode melhorar se trocar os seus maus jogadores por outros mais qualificados, podemos dizer também que incompetência só se corrige com substituições de nomes. Sim, é possível aprender a ser competente, mas jamais ao custo de danos à instituição como se ela fosse um laboratório.
Além de estarmos frequentando apenas a metade da página de classificação, no final do semestre passado foi noticiado que teríamos caixa para sustentar a folha de pagamento dos jogadores somente até setembro. Situação em campo igual à do ano passado, e na administração pior, a se confirmar a informação. Se com os salários em dia alguns jogadores não se doam (talvez nem adiantasse, não têm qualidade mesmo) imaginem sem salários em dia. Sem time e sem dinheiro, o futuro do clube é mais assustador do que já é o presente.
Acredito que a esta altura muitos dos que votaram pelo arquivamento do pedido de apreciação da possível destituição da direção devem estar arrependidos ao ver que de nada resultou procurar pacificar o clube. Certamente assim votaram com as melhores intenções, mas delas se diz que o inferno está cheio.
Não dá para esperar que o relógio criado pelo site tenha que chegar ao seu fim. O Coritiba precisa de correções radicais e já. Pelo modo como as coisas andam no Alto da Glória, esperar até 2021 é grande risco, uma nova gestão pode encontrar o clube em situação muito mais difícil de reerguer do que em 2009/2010. Os coritibanos com liderança, notadamente integrantes do Conselho Deliberativo, não podem se omitir. Deixar de agir para não ferir o sentimento pessoal do presidente será colocar o clube em segundo plano. Deixar de agir por ver ameaça de judicialização da questão será falta de coragem. Deixar de agir para que cada vez fique pior e o seu grupo possa se habilitar a vencer a próxima eleição será ato que em nada qualificará quem assim proceder.
Na próxima coluna vou mostrar que o Conselho Deliberativo não tinha e não tem competência para arquivar de plano o pedido, o qual obrigatoriamente deveria ter sido remetido à assembleia geral para que esta dissesse se era procedente ou não.
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